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Relacionamento é negócio e amor entra no orçamento em ‘Amores Materialistas’

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Se o sociólogo Zygmunt Bauman criou o conceito de amores líquidos para descrever as relações etéreas na pós-modernidade, hoje em dia, ele se espantaria com a era do amor filtrado. Em aplicativos como Tinder, Bumble, Happn, entre outros, os relacionamentos começam com exigências claras: altura mínima, faixa salarial, nível de ambição, signo, hobbies compatíveis. A busca pela alma gêmea virou um processo de curadoria — quase uma entrevista de emprego emocional — onde só avança quem preenche as caixinhas certas.

Nesse contexto, o amor genuíno, o acaso romântico, a química inexplicável parecem cada vez mais raros. As comédias românticas dos anos 90 contavam outra história: pessoas imperfeitas, improváveis e desajeitadas encontravam um jeito de se amar — apesar das diferenças. Para a diretora Celine Song (Vidas Passadas), esse conto de fadas não existe. Em Amores Materialistas, seu novo filme, o amor só sobrevive se tudo for negociado.

O filme parte de uma pergunta desconfortável, mas essencial: até que ponto o amor pode resistir às pressões da vida real? Porque entre uma paixão arrebatadora e a escolha de um parceiro estável, confiável e financeiramente compatível, existe um abismo. E é nesse abismo que o longa se instala, recusando-se a dar respostas fáceis. Em vez disso, Song constrói uma narrativa onde o relacionamento é tratado como um tipo de contrato: envolve afeto, mas também envolve estratégia. Amor aqui não é um salto de fé, é um cálculo de risco.

A diretora mostra que não dá mais para separar o emocional do financeiro, o desejo do contexto social. Lucy, interpretada por Dakota Johnson, de Cinquenta Tons de Cinza e Madame Teia, sabe disso melhor do que ninguém. Cínica, ela é uma matchmaker (como se fosse uma espécie de casamenteira moderna) que se envolve em um triângulo amoroso complicado. Está apaixonada? Talvez. Mas o que conta mesmo é se esse amor cabe na equação da sua vida. Ao redor dela, orbitam dois homens que simbolizam lados opostos desse dilema: Chris Evans (Capitão América: O Primeiro Vingador) encarna o romance do passado: intenso, bonito, mas inviável por questões financeiras; Pedro Pascal (Quarteto Fantástico) representa a segurança, o presente possível, ainda que menos idealizado. Nenhum deles é o “par perfeito”. E aí reside a maior verdade do filme.

Se as comédias românticas dos anos 90 nos faziam torcer para que dois opostos se atraíssem e o destino desse uma forcinha, Amores Materialistas nos faz olhar para dentro e pensar: o que estou exigindo de quem amo? O que estou disposto a ceder? Quais são as minhas prioridades e quanto valem, de fato, meus sentimentos? O longa não quer fazer chorar, mas também não quer fazer rir. O que ele oferece é algo mais raro: uma pausa para pensar.

Amores Materialistas também ousa tocar em temas espinhosos que raramente aparecem nas comédias românticas tradicionais. Há discussões sobre abuso, traumas invisíveis, sobre o quanto nos moldamos para agradar — ou sobreviver — em nossas relações. Essas camadas adicionam densidade à narrativa, e tornam os diálogos ainda mais dolorosamente reais. Song escreve conversas com uma genuinidade gratificante: com hesitação, silêncio e verdades desconfortáveis. Ninguém ali diz frases tiradas de biscoitos da sorte, eles falam para tentar entender o outro (e a si mesmos).

No final, Celine Song mostra que o amor pode até sobreviver, mas não sem negociação, não sem desconforto, não sem o peso das escolhas que fazemos. Amores Materialistas não propõe um final idealizado — essa cara de final feliz pode enganar — ele propõe uma reflexão: amar, hoje em dia, é um ato consciente, quase um projeto de gestão emocional e financeira. Entre encontros inesperados, jantares em silêncio e decisões dolorosas, o longa nos lembra que, mesmo sob pressão, o amor ainda pode existir. Só que ele vem com cláusulas e riscos. O que você tem a negociar em nome do amor?

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