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o poder das comunidades femininas aventureiras em São Paulo

Talvez você já tenha sentido isso: um sábado à noite silencioso demais, um domingo que parece pesar, uma vontade de sair de casa para se sentir viva. Talvez você também já tenha desejado uma companhia leve, uma conversa sem filtros, uma nova amizade sem cobrança. E se eu te dissesse que tudo isso pode começar com um passo simples?
O mundo anda exigente, solitário e corrido. A pressão de ser tudo para todos — produtiva, saudável, forte, impecável — esgota. Para muitas mulheres, a desconexão de si mesmas e dos outros tem se tornado uma dor silenciosa que quase ninguém vê ou compreende. Mas também tem nascido um movimento silencioso e forte: o retorno à presença e ao coletivo.
E é aí que entram as comunidades femininas aventureiras, grupos espontâneos, reais, onde mulheres de diferentes histórias se encontram para respirar, caminhar e (re)começar. Nesses encontros, a aventura é só o cenário. O que se constrói, de verdade, é o vínculo feminino umas com as outras.
Um pedido de companhia virou um movimento real e genuíno
Foi exatamente isso que aconteceu com a analista de Marketing Ingredi Lima, 30 anos, fundadora do Elas Trilham SP, um movimento que nasceu de forma despretensiosa, em um dos momentos mais vulneráveis da sua vida.
Em meio ao caos emocional, ela publicou um post simples no Threads, do Instagram, perguntando se alguma mulher gostaria de fazer passeios na natureza em conjunto. Em poucas horas, mais de cem mulheres responderam.
Indy criou um grupo no WhatsApp, marcou o primeiro encontro em São Paulo e deu muito match. Sem máscaras, sem competição, sem a obrigação de performar algo. Estavam todas ali, juntas, por vontade de viver algo verdadeiro. Hoje, o Elas Trilham SP conecta centenas de mulheres na capital paulista e arredores. Juntas fazem trilhas, piqueniques, cafés, encontros em barzinhos, viagens longas ou curtas.
“Quando eu criei o Elas Trilham SP, não imaginei a proporção que isso tomaria. Era só um pedido despretensioso de companhia postado no Threads, num momento em que eu me sentia sozinha e vulnerável. Hoje, somos quase 300 mulheres ativamente conectadas e mais de 800 seguidoras acompanhando esse movimento, e eu tenho certeza de que esse número só vai crescer”, diz Indy.
No primeiro encontro do grupo, em um café em São Paulo, cada uma das 20 mulheres se apresentou, contando suas histórias. Tinha de tudo: mães solo, mulheres recém-separadas, empreendedoras cansadas, mulheres tentando fazer novas amizades, mulheres em processo de cura e mulheres que já estavam em relacionando e queriam sair sozinhas porque o parceiro não tinha tempo ou não gostava de passeios de trilhas.
“Foi ali que eu entendi o real impacto desse simples movimento: oferecer não só companhia para trilhar, mas também acolhimento, escuta e pertencimento. E isso muda vidas”, diz a fundadora do movimento.
Por que comunidades femininas fazem tão bem?
Para Indy, as comunidades femininas lembram às mulheres algo que foram ensinadas a esquecer: que mulher não é rival de mulher, que se ajudar é mais bonito do que se comparar e que acolher cura.
“E que podemos (e devemos!) ocupar espaços ao ar livre, trilhas, praias, matas e cidades, com segurança, com voz, com liberdade”, conclui Indy.
A importância das conexões e de pertencer
Estudos mostram que o pertencimento a grupos sociais impacta positivamente a saúde emocional, diminuindo ansiedade, sintomas depressivos e aumentando autoestima, senso de propósito e esperança. E no caso das mulheres, isso ganha ainda mais força: uma mulher que se sente parte é uma mulher que floresce.
Um estudo publicado pela Harvard Women’s Health Watch aponta que mulheres com laços sociais fortes apresentam menor risco de doenças cardíacas, menos quadros de depressão e até maior longevidade. Elas também são mais resilientes diante de perdas e traumas, por terem uma rede de apoio emocional ativa.
Outra pesquisa de 2022, publicada na National Library of Medicine, reforçou que os benefícios dos laços sociais são ainda mais fortes entre as mulheres, ajudando a saúde física, psicológica e dos relacionamentos.
Já o estudo “The Oxytocinergic System as a Mediator of Anti-stress and Restorative Effects Induced by Nature: The Calm and Connection Theory”, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health, concluiu que o contato com a natureza ativa o sistema oxitocinérgico do corpo, ou seja, estimula a liberação de ocitocina, hormônio ligado ao vínculo social, calma e bem-estar.
Como fazer parte do Elas Trilham SP?
Para manter a organização, a leveza e o conforto de quem já está na comunidade, o Elas Trilham SP possui uma lista de espera oficial. Para entrar nela, basta acessar o link disponível no perfil do grupo no Instagram.
As novas integrantes são adicionadas ao grupo apenas uma vez por mês. Isso permite que a fundadora dê atenção as novas apresentações e mantenha os encontros organizados. Enquanto as interessadas aguardam na fila de espera, podem acompanhar os conteúdos do grupo no Instagram.
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