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Jeffrey Epstein contratou investigadores para intimidar agentes do FBI, dizem autoridades

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Vários agentes federais, que falaram à Rolling Stone sob condição de anonimato, afirmam que Jeffrey Epstein contratou investigadores particulares para seguir, intimidar e vigiar agentes especiais do FBI que investigavam as denúncias de que ele pagava menores de idade para fazer sexo. O FBI recusou o pedido de comentário da Rolling Stone.

Essas novas alegações sobre a pressão exercida contra o FBI surgem após divisões internas na administração de Donald Trump terem vindo à tona na semana passada, em meio ao debate sobre o manuseio de documentos e informações relacionados a Epstein, o financista em desgraça e acusado de tráfico sexual. Vários veículos de imprensa relataram uma reunião tensa entre o vice-diretor do FBI, Dan Bongino, a chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, a procuradora-geral Pam Bondi e outros funcionários. Segundo relatos, a reunião terminou com Bongino saindo furioso. Ele estaria agora cogitando deixar seu cargo no FBI.

Anos após a morte de Epstein na prisão, durante o primeiro mandato de Trump, o caso continua provocando divisões no alto escalão do segundo governo Trump.

Integrantes da administração disseram à Rolling Stone na semana passada que a resistência do Departamento de Justiça em liberar mais documentos ligados a Epstein poderia irritar ainda mais a base de apoiadores já impacientes. “Eles vão ficar muito bravos com a gente”, disse um funcionário. A promessa de Trump de divulgar a chamada “lista de clientes” de Epstein foi um compromisso de campanha repetido diversas vezes, amplificado por influenciadores da ala MAGA, como Tim Pool e Laura Loomer — os mesmos que agora estão furiosos com a aparente obstrução do Departamento de Justiça.

Na tentativa de conter teorias da conspiração sobre um possível assassinato de Epstein, o Departamento de Justiça divulgou na semana passada 11 horas de gravações da cela do financista. Mas a liberação só alimentou mais teorias depois que se descobriu que faltava um minuto nas imagens divulgadas. (Pam Bondi afirmou que o sistema de gravação se reinicia todas as noites e sempre perde um minuto no mesmo horário.)

Trump, por sua vez, pediu a seus apoiadores que deixem de questionar as revelações sobre Epstein, escrevendo no Truth Social: “Somos um só time, MAGA, e não gosto do que está acontecendo. Temos uma administração PERFEITA, FALADA NO MUNDO TODO, e ‘pessoas egoístas’ estão tentando prejudicá-la — tudo devido a um cara que nunca morre, Jeffrey Epstein.”

No sábado, o diretor do FBI, Kash Patel, pareceu apoiar Bondi e Trump em uma postagem no X, dizendo: “As teorias da conspiração simplesmente não são verdadeiras, nunca foram. É uma honra servir ao Presidente dos Estados Unidos @realDonaldTrump — e continuarei fazendo isso enquanto ele contar comigo.”

Segundo a NBC News, tanto Patel quanto Bongino estariam cada vez mais insatisfeitos com Bondi, não apenas pelas questões envolvendo Epstein, e teriam levado suas queixas à liderança do Departamento de Justiça.

Embora o FBI costume ser o primeiro a reivindicar crédito por grandes operações policiais, o órgão atua a pedido de promotores do Departamento de Justiça, que decidem os rumos e o alcance das acusações criminais. Isso frequentemente gera atritos entre agentes ansiosos por realizar prisões e autoridades do DOJ que precisam lidar com entraves políticos e burocráticos.

Essa mesma tensão — que opõe Bongino e o FBI a Bondi, a procuradora-geral — está presente em um relatório de 348 páginas do Escritório de Responsabilidade Profissional (OPR) do Departamento de Justiça, que investiga as circunstâncias do acordo judicial firmado com Epstein em 2007.

Em 2018, um ano após o ex-procurador do Distrito Sul da Flórida, Alexander Acosta, ter sido nomeado Secretário do Trabalho por Trump, o Miami Herald publicou uma série de reportagens denunciando que Acosta teria negociado um acordo judicial inédito e ilegal para Epstein, usando e-mails entre Acosta e os advogados de Epstein para mostrar como a sentença surpreendentemente branda foi acertada. Acosta negou as acusações.

O acordo — que Epstein aceitou — permitiu que ele se declarasse culpado de acusações estaduais de solicitação e aliciamento de menores, o que lhe garantiu o cumprimento da pena por meio de um programa de trabalho externo, evitando assim uma possível prisão perpétua e acusações federais. Epstein também obteve um acordo de não persecução penal, que impedia suas vítimas de processá-lo e ainda protegia seus cúmplices de serem investigados.

Após a reportagem do Miami Herald, a pressão do Congresso e a revolta pública levaram Acosta a renunciar ao cargo de secretário do Trabalho, e o Departamento de Justiça abriu uma investigação sobre as circunstâncias do acordo judicial de Epstein.

Segundo o relatório da OPR, os agentes do FBI responsáveis pela investigação de Epstein ficaram repetidamente frustrados com a recusa da cúpula do Departamento de Justiça em prendê-lo e processá-lo. “FBI queria prender [Epstein] nas Ilhas Virgens durante um concurso de beleza… no qual ele [era] jurado”, afirma o documento. A agente responsável pelo caso lembrou que ela e seu colega ficaram decepcionados com a decisão, e que o supervisor especial do FBI ficou “extremamente irritado” com isso.

O relatório também detalha que Maria Villafaña, a procuradora federal encarregada do caso, foi impedida de seguir com o plano de prender Epstein. Villafaña havia coordenado com o FBI a prisão de Epstein em 15 de maio de 2007, e o FBI chegou a agendar uma coletiva de imprensa para o mesmo dia. Porém, segundo o relatório, os chefes do DOJ em Miami barraram a operação.

Nos meses seguintes, a equipe jurídica de Epstein agiu para minar os esforços da promotoria: investigaram familiares de autoridades do DOJ em busca de conflitos de interesse, recorreram a pareceres jurídicos de especialistas renomados para tentar invalidar as acusações e fizeram apelos diretos aos altos funcionários do DOJ em Washington para arquivar o caso.

Mas a intimidação não parou aí. Em sua série investigativa, Miami Herald revelou que Epstein contratou detetives particulares para seguir e investigar os policiais de Palm Beach que o denunciaram ao FBI, incluindo o então chefe de polícia Michael Reiter.

“Registros policiais mostram que os investigadores particulares de Epstein tentaram realizar entrevistas se passando por policiais; reviraram o lixo de Reiter para tentar encontrar algo que o descreditasse; e foram acusados de seguir as garotas e suas famílias”, relatou o Herald. “Em um dos casos, o pai de uma das garotas alegou ter sido perseguido e quase jogado para fora da estrada por um desses investigadores, conforme mostram registros policiais e judiciais.”

Dois agentes da lei que falaram com a Rolling Stone confirmaram que as mesmas táticas foram usadas contra os agentes do FBI que investigavam Epstein. “Eles colocaram os agentes sob vigilância, seguiram eles, reviraram o lixo, contrataram detetives para investigar os próprios investigadores”, disse um deles, acrescentando que um agente chegou a se mudar para um condomínio fechado para tentar escapar do assédio constante.

As tentativas de Epstein para encerrar a investigação foram tão extremas que os promotores chegaram a tentar acusá-lo de obstrução de justiça em 2007.

O relatório da OPR aponta que Villafaña reuniu provas para apresentar duas acusações federais de obstrução contra Epstein, e que os advogados do financista chegaram a considerar um acordo que incluía essas acusações. Em certo momento, após meses de manobras, Villafaña escreveu: “Fico com… as vítimas e os agentes me cobrando para saber por que ainda não apresentamos uma acusação formal.”

Um dos agentes envolvidos no caso também relatou ter tentado atrasar o acordo final — que impedia as vítimas de buscar justiça depois —, tentando convencer os promotores a não cederem a um acordo favorável demais a Epstein. Ele disse aos investigadores do DOJ que seus esforços foram “varridos para debaixo do tapete” pelos chefes da promotoria de Miami.

Sentimento semelhante apareceu no depoimento da acusadora Virginia Giuffre, que declarou sob juramento em 2016 que um dos agentes do FBI que a entrevistaram em 2006 disse, anos depois, que queria continuar investigando Epstein, mas que “suas mãos estavam atadas” pela cadeia de comando e que a investigação provavelmente não iria adiante.

Além das lacunas na investigação de 2006 e do acordo judicial, ainda pairam dúvidas sobre a operação do FBI em 2018 na casa de Epstein em Manhattan e os inúmeros documentos apreendidos lá. Esses materiais continuam sob sigilo, e a atual liderança do DOJ sinalizou, em um memorando divulgado na semana passada, que não pretende divulgar novas provas ou documentos do caso.

Com a tensão crescendo dentro do DOJ, a advogada Sigrid McCawley — que representa várias vítimas de Epstein — disse à News Nation: “O que é realmente chocante nessa última revelação do governo é que eles sabem que estão sentados em um tesouro de informações e não estão entregando. Trabalho nesses casos há mais de 10 anos — há uma infinidade de informações que o público ainda não viu sobre Epstein e seus cúmplices.”

Reiter, o ex-chefe da polícia de Palm Beach que alertou o FBI sobre a investigação conduzida por sua própria delegacia, não se surpreendeu ao saber que os agentes do FBI também foram intimidados com os policiais locais.

“Esse tipo de coisa acontece mais do que as pessoas imaginam — revirar lixo, vigilância constante”, disse Reiter. “Isso também aconteceu com agentes do FBI? Não me surpreende nem um pouco.”

+++LEIA MAIS: Trump culpa Obama e Hillary Clinton enquanto polêmica com Jeffrey Epstein piora; entenda

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