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Os 13 filmes de Wes Anderson, do pior ao melhor, segundo Rolling Stone

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Wes Anderson é o coentro do cinema americano. Há quem praticamente odeie seu trabalho por instinto. Para outros, seus filmes são indispensáveis.

Os críticos de Anderson costumam usar a palavra “afetado” ao criticar suas comédias, mas isso é uma leitura superficial que não capta o que torna a obra do cineasta de 56 anos — composta por 13 filmes ao longo de 30 anos — tão singular e envolvente.

Sim, os filmes de Anderson são, em geral, dioramas sentimentais e meticulosamente construídos, nos quais os atores entregam diálogos secos com precisão milimétrica. Mas filmes como Três É Demais (1999), A Vida Marinha com Steve Zissou (2004) ou seu mais recente, O Esquema Fenício (2025) — estrelado por Benicio del Toro como um magnata cheio de empáfia — são mais do que exercícios de excentricidade. As obras de Anderson falam de luto e morte, de outsiders solitários desesperados por conexão. Ele é implacável ao retratar as relações humanas. Seus personagens mais engraçados estão sempre isolados e são sinceros, tropeçando ao tentar amar ou evitar o amor — uma espécie de pastelão emocional que só existe nos mundos de Wes Anderson.

E seus filmes são mundos — realidades alternativas dolorosamente belas, que parecem feitas à mão e são povoadas por esquisitos falhos, mas adoráveis. Como esses 13 filmes provam, Anderson pode ser, ao mesmo tempo, o contador de histórias mais cínico e o menos cínico que existe.

Abaixo, veja os 13 filmes de Wes Anderson, do pior ao melhor, segundo Rolling Stone:

Provavelmente o filme mais carregado de piadas e politicamente engajado de Anderson, Ilha dos Cachorros é uma fábula sci-fi em stop motion sobre lealdade e corrupção. Foi uma comédia surpreendentemente premonitória sobre quarentena, além de ser um dos filmes mais emocionalmente distantes de Anderson. A obra é um primor de minúcias visuais, mas seus temas pesados muitas vezes ficam soterrados pela estética — e por uma visão distópica de um Japão futurista que parece pouco desenvolvida. Não ajuda o fato de os humanos falarem japonês sem legendas, enquanto os cachorros conversam em inglês — uma escolha criativa curiosa que pode ser alienante. Ainda assim, o elenco impressiona, especialmente Bryan Cranston como Chief, um vira-lata exilado que ajuda um órfão de 12 anos a reencontrar seu cãozinho. Três roteiristas assinam Ilha dos Cachorros com Anderson, o que talvez explique por que a história soa um tanto dispersa. Há uma melancolia neste filme grandioso que carece do charme habitual de Anderson — embora seja difícil discordar da tese central: os cachorros são incríveis, muito mais do que os humanos.

Esse é o mais próximo que chegaremos de The New Yorker — O Filme. O primeiro live-action de Anderson após um hiato de sete anos é uma carta de amor às revistas literárias, transbordando criatividade, mas com uma proporção entre estilo e conteúdo que pende muito para o estilo. O recurso narrativo — e Anderson adora um recurso narrativo — é simples: A Crônica Francesa é uma revista literária do Meio-Oeste, e cada história do filme é uma reportagem dessa revista. A melhor delas traz Benicio del Toro como um criminoso artista inspirado por uma carcereira vivida por Léa Seydoux. A segunda melhor história da antologia apresenta Jeffrey Wright, em sua estreia com Anderson, como um jornalista que conta um caso que mistura true crime e alta gastronomia.

A Crônica Francesa é um dos filmes mais cerebrais de Anderson, um manifesto sobre a arte e sua relação com a vida e a sociedade. E ainda assim, há um toque de romantismo — Anderson torce pelos boêmios e revolucionários.

O primeiro filme de Anderson — e também o primeiro de seus protagonistas, Owen e Luke Wilson, donos dos olhos mais tristes de Hollywood. Os irmãos da vida real interpretam velhos amigos, um dos quais resgata o outro de um hospital psiquiátrico para colocar em prática um plano de crimes. É uma comédia policial que brinca com os filmes independentes sombrios dos anos 1990 e já explora temas que Anderson levaria por toda a carreira, como as dinâmicas complicadas entre irmãos desajustados. O estilo visual do diretor ainda é discreto aqui, mas já dá sinais: há algumas boas gags visuais, e o filme vibra com uma energia crua — um cult na época que hoje soa como um retrato do diretor em início de carreira.

10º lugar: O Esquema Fenício (2025)

Benicio del Toro vive um industrialista quase trumpiano, cercado por rivais que querem matá-lo — o sujeito não consegue nem pegar um avião sem tentarem derrubá-lo do céu. O filme trafega por terrenos familiares para Anderson: conflitos paternos, assistentes leais e efeitos especiais teatrais impulsionam essa história de ambição e redenção. Mas há surpresas suficientes para desviar a atenção do que seria apenas mais do mesmo.

Benicio del Toro interpreta um brutamontes ágil, dividido entre a busca pela grandeza ao estilo Ayn Rand e o desejo de se reconectar com a filha afastada — uma aspirante a freira que fuma cachimbo, vivida com excelência por Mia Threapleton (sim, a filha da Kate Winslet!). E, de algum jeito, esse é também o primeiro filme de Michael Cera com Anderson — uma parceria que parecia inevitável. Ele está brilhante como Bjorn Lund, um entomologista norueguês desajeitado que fica bêbado com três cervejas.

9º lugar: Viagem a Darjeeling (2007)

Um dos filmes mais controversos de Anderson — uma viagem de trem pela Índia com um inegável tom colonialista que continua sendo desconfortável. O subcontinente e seus habitantes são personagens importantes, mas nem o país ou seu povo recebem um retrato realmente profundo. Apesar disso, as três atuações principais estão entre as melhores da carreira de Anderson. A trama: três irmãos — vividos por Luke Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman — lidam com a morte do pai em uma viagem de trem em busca da mãe, que não apareceu no funeral. Wilson exibe toda sua sensibilidade, com o rosto enfaixado, Brody entrega sua conhecida fragilidade (poucos atores são tão bons em transmitir o desconforto de estar na própria pele), e Schwartzman, como sempre, revela várias camadas em sua atuação. Viagem a Darjeeling também mostra o excelente gosto musical de Anderson — uma trilha que mistura clássicos de Bollywood e The Kinks. Anderson adora trens — eles aparecem em vários de seus filmes —, mas dá para sentir que este é o trem que ele mais ama.

Imagine Contatos Imediatos do Terceiro Grau misturado com o trabalho de Chuck Jones e Arthur Miller. Adicione um viúvo que não consegue contar aos filhos que a mãe deles morreu, um pequeno exército de excêntricos do deserto e um alienígena em stop motion — e você tem um dos filmes mais comoventes de Anderson. Também é uma obra com uma mensagem clara: o luto nos torna humanos, e não há como evitá-lo. O viúvo é vivido com uma graça desajeitada por Jason Schwartzman, o veterano do “repertório Wes Anderson” que mais parece sintonizado com as vibrações emocionais do diretor.

Asteroid City é uma história dentro de outra história, ambientada num sudoeste americano fictício dos anos 1950 e em um estúdio de TV à moda antiga. Um dos filmes mais coloridos e visualmente impactantes de Anderson — os tons pastéis são hipnotizantes —, é intergaláctico e pé no chão ao mesmo tempo. O elenco habitual está, como sempre, impecável: Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum e Jeffrey Wright. As novidades no elenco rotativo de Anderson incluem Tom Hanks e Steve Carell como um gerente de motel excêntrico. E Scarlett Johansson revela uma vulnerabilidade que raramente mostra como estrela de cinema.

7º lugar: A Vida Marinha com Steve Zissou (2004)

Meninos serão meninos. Este é um dos melhores filmes sobre masculinidade do século — uma aventura temperada estrelada por um Bill Murray azedo no auge de sua veia cômica. Ele interpreta Steve Zissou, um documentarista marítimo à la Jacques Cousteau, fumante de maconha, tenso como uma mola e um tanto Peter Pan. Anjelica Huston está magnífica sempre que aparece como a brilhante esposa de Zissou. Owen Wilson, com um sotaque caipira duvidoso, talvez — ou talvez não — seja filho de Zissou. Outro habitué de Anderson, Willem Dafoe, está hilário como o leal capanga alemão de Zissou. E Cate Blanchett, em sua primeira parceria com Anderson, brilha como uma jornalista grávida e cheia de atitude. O ponto alto do filme vem logo no início: uma cena em câmera lenta que mostra o barco de exploração Belafonte cortado ao meio, revelando sauna, cozinha, biblioteca e outras cabines — um espetáculo visual que mistura teatro e história em quadrinhos.

6º lugar: Três É Demais (1998)

Anderson atinge o auge de seu estilo neste aqui — uma comédia adolescente sobre amadurecimento. Schwartzman estreia com Anderson como Max Fischer, um estudante carismático, manipulador e apaixonado que vive tentando se destacar na escola de elite Rushmore, onde estuda com bolsa e da qual está quase sendo expulso. Raramente a arrogância foi retratada com tanta compaixão. Max é insuportável e pretensioso, um clássico personagem de Anderson: o garoto prodígio em crise. Bill Murray também faz sua estreia no “universo Anderson” como Harold Blume, um empresário infeliz e ex-aluno da Rushmore, que enxerga em Max um reflexo de si próprio — até que os dois se tornam rivais amorosos por causa de uma professora de primeira série, vivida por Olivia Williams. As produções teatrais escolares de Max — uma adaptação do drama policial Serpico e, depois, uma épica sobre a Guerra do Vietnã — são momentos inesquecíveis.

Em 2023, Anderson lançou discretamente na Netflix quatro adaptações criativas de contos do amado (e controverso) autor Roald Dahl. Mais tarde, eles foram reunidos em um único filme antológico — uma pena que nunca tenham chegado aos cinemas. As histórias são narradas por vários atores, incluindo um excelente Dev Patel, que quebra a quarta parede com naturalidade em cenários teatrais. São contos levemente surreais, belíssimos e minimalistas, sobre apostadores, cobras e valentões sádicos de escola. Benedict Cumberbatch estrela o mais longo dos quatro projetos, A Incrível História de Henry Sugar, como um milionário degenerado obcecado pela capacidade de um guru de “enxergar sem ver”. Os outros três curtas são O Cisne, Veneno e O Caçador de Ratos. Neste último, Ralph Fiennes interpreta um exterminador com cara de rato em uma performance tão estranha e fascinante que merecia algum prêmio. Como Anderson, Dahl tem um humor seco e é atraído pelo absurdo e pelo fantástico — mas é também um misantropo mais conectado ao lado sombrio da natureza humana do que o diretor. Surpreendentemente, Anderson conquistou seu único Oscar (até agora) por Henry Sugar, eleito Melhor Curta-Metragem Live Action pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em 2024.

4º lugar: Moonrise Kingdom (2012)

O primeiro filme de época de Anderson é uma meditação sobre a intensidade da infância. Os protagonistas, Sam e Suzy, ambos com 12 anos, apaixonam-se e decidem fugir juntos. Jared Gilman e Kara Hayward vivem o jovem casal em atuações sinceras e delicadas. Enquanto isso, os adultos correm para encontrá-los antes que uma tempestade chegue. Bruce Willis está perfeitamente acabado como o delegado local encarregado da busca. Edward Norton, estreando no “time Anderson”, interpreta o dedicado líder de um grupo de escoteiros — a brincadeira do diretor com os escoteiros americanos. Anderson entende duas verdades fundamentais sobre a infância: ela pode ser solitária e os adultos são ridículos. Há um peso pairando sobre os nossos heróis adolescentes que captura perfeitamente o drama gigantesco que tudo parece ter nessa fase da vida.

Uma comédia melancólica ambientada em 1932, pouco antes da guerra, sobre um luxuoso hotel do Velho Mundo situado nas montanhas de um país fictício da Europa Oriental. Jude Law interpreta um jovem escritor que ouve a história do extraordinário concierge do hotel — já falecido — contada por um homem mais velho, vivido por F. Murray Abraham. O próprio hotel é quase um personagem, lindamente concebido, com escadarias grandiosas e elevadores apertados — imagine o Overlook de O Iluminado, mas dentro de uma farsa minuciosa. O concierge, M. Gustave, interpretado por Ralph Fiennes, é um personagem infinitamente divertido — um sedutor de senhoras ricas que ama poesia — e o ator transita com facilidade entre o digno e o ridículo. Tony Revolori é o coração da trama como Zero, o lobby boy e escudeiro de Gustave, um herói leal que se dedica ao vigarista mais velho. O Grande Hotel Budapeste é um filme romântico e, no fim das contas, assombroso sobre como o fascismo se infiltra na vida — primeiro lentamente, depois de forma súbita e violenta — uma fantasia onde, por trás do dourado, há tragédia.

Anderson é feito para a animação: ele é um artista que exerce controle absoluto sobre cada quadro de seus filmes, e a stop motion é um sonho para mentes brilhantes com veia controladora. Esta foi sua primeira colaboração com Roald Dahl — uma das parcerias criativas mais perfeitas do cinema. George Clooney dubla a raposa do título, acompanhado de um elenco estelar que inclui Bill Murray como Texugo e Meryl Streep como a Sra. Fox. O Sr. Raposo de Clooney é um charmoso nato tentando viver corretamente por sua família — mas, no fim das contas, ainda é uma raposa. Considere-o o segundo melhor criminoso de Clooney nas telas, com Danny Ocean vindo logo atrás. No filme, ele rouba iguarias de três fazendeiros cruéis. Dahl não era um homem perfeito — seus preconceitos são bem documentados —, mas desprezava com prazer os grosseiros e egoístas. Anderson pode não concordar totalmente com o misantropismo de Dahl, mas certamente parece compreendê-lo.

Este clássico agridoce é uma fábula ao estilo J. D. Salinger sobre uma família de gênios excêntricos e o pai rude e mulherengo que tenta curar as feridas que ele mesmo causou. É uma vitrine da virada do milênio para Anderson, que aqui aperfeiçoava seus toques característicos nesse sucesso de crítica — uma mistura de humor sofisticado e rasteiro, pathos mórbido e um grande elenco disposto a habitar seu mundinho lúdico e emotivo. Nada mal para seu terceiro longa. O diretor arranca as melhores performances da carreira de Ben Stiller e Gwyneth Paltrow como irmãos superdotados que se tornam fracassados antes do tempo. Os habituais também brilham: os irmãos Wilson, Bill Murray e Anjelica Huston. Mas quem realmente faz o filme brilhar é Gene Hackman. O lendário vencedor do Oscar interpreta Royal Tenenbaum, o patriarca distante e moralmente flexível, como um leão envelhecido que age com uma urgência relaxada. Hackman não entende Wes Anderson nem um pouco — e atua como se estivesse em um filme de Gene Hackman o tempo todo. Isso o torna especialmente cru no papel — e sutilmente hilário. A tensão entre visões e estilos — entre um mestre da atuação e um jovem diretor cultivando uma estética mais irônica e desapaixonada — faz de Os Excêntricos Tenenbaums o devaneio mais satisfatório de Anderson.

+++LEIA MAIS: Os melhores filmes de todos os tempos, segundo Wes Anderson [LISTA]

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