Música
Produtor que cancelou shows do Ira! no sul foi ‘cagão’, diz Nasi

O Ira! se viu no olho do furacão em tempos recentes. Quatro shows da banda na região Sul do Brasil foram cancelados devido a um posicionamento de Nasi durante show realizado em Contagem (MG), no fim de março.
Na ocasião, o vocalista pediu que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente inelegível, deixassem a plateia após vaias por ele ter disparado o grito “sem anistia”, em referência aos presos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
A 3LM Entretenimento, empresa que produzia as quatro apresentações no Sul — mais especificamente em Jaraguá do Sul, Blumenau, Caxias do Sul e Pelotas —, afirmou que não teve escolha a não ser cancelar os eventos. Em nota, a companhia relatou “inúmeros pedidos de cancelamento de ingressos adquiridos, desistência de patrocinadores e o risco claro de não progressão das vendas até as datas dos shows”.
O próprio Nasi reconheceu, em vídeo divulgado posteriormente, que existiram “perdas”. Todavia, após ter aproveitado a ocasião para pedir desculpas aos colegas de banda, o cantor declarou que eles irão se recuperar — em um processo que, em suas palavras, já ocorria.
Em entrevistas posteriores, o artista relatou que, na verdade, não houve pedidos reais de cancelamento de ingressos, mas, sim, ações de “robôs” manipulados online por apoiadores de Bolsonaro. “Até o contratante falou que recebeu mensagens de pessoas de Manaus, algo como ‘ah, eu não vou no show’. (risos) O cara nem ia no show! Esses caras que estão enchendo o saco aí, robozinho… Todo mundo sabe como o gabinete do ódio age, né?”, disse à Billboard Brasil.
Agora, ao Estadão, Nasi foi além e definiu o responsável pelos shows no Sul como “cagão”. Inicialmente, ele foi convidado a refletir sobre os shows cancelados e disse que o episódio “não representa o público, nem o povo do Sul”.
“Por mais que eles [do Sul] tenham, estatisticamente, uma orientação mais conservadora, isso não foi empurrado pelos fãs. Isso foi milícia digital. Nosso show de novembro em Porto Alegre já está praticamente esgotado. Fizeram um terrorismo com os contratantes, literalmente. E tinha um contratante que era responsável por cinco shows desses. Eu sei de robôs, gente que está do outro lado do País, em Manaus, falando que não iria ao show (risos).”
Em seguida, foi feita a avaliação a respeito do comportamento da produção dos eventos em Jaraguá do Sul, Blumenau, Caxias do Sul e Pelotas:
“Agora, o cara [produtor] foi cagão. Vários outros contratantes receberam essas ameaças, bancaram e tiveram sucesso. Porque nossos shows, desde o primeiro, estão lotados. Aqui em São Paulo, tivemos que abrir uma noite extra na Vibra. Quase 6 mil pessoas cabem lá.”
Por fim, Nasi deixou claro que não rompe relações com pessoas de posicionamento político diferente do dele. O problema ocorre com aqueles que manifestam preconceitos — ainda assim, não é possível barrar essa parcela de público de seus shows.
“Então, quem for conservador, da direita democrática, eu não quebro relações por causa disso. A não ser que a pessoa seja uma besta fera, ofendendo com homofobia, racismo, pedindo volta da ditadura. Isso não é coisa de conservador, isso é coisa de reacionário. Mas eu não tenho como impedir também.”
Nasi avalia — e critica — a esquerda no Brasil
Ainda durante a entrevista, Nasi, que se diz de centro-esquerda, criticou a falta de renovação no campo progressista. Além disso, em sua visão, não há tanto pulso firme nos correligionários atuais.
Ele comentou:
“Estamos com um problema de renovação da esquerda, principalmente de lideranças. Vão ficar bravos comigo, mas a esquerda tradicional está muito bunda-mole. Até pessoas que eu conheço, dizendo que são veganas, que andam de bicicleta, que são filiadas a partidos, mas na hora do ‘vamos ver’, não querem confusão. E aí temos que falar das bestas feras… Ele (Jair Bolsonaro) só foi um fantoche de um armário cheio de ossos e cadáveres.”
O artista de 63 anos acrescentou, abordando também a direita no Brasil:
“Você vê esses caras aí de camisa verde e amarela, que rezam pro quartel, ficam esperando o ET descer, ficam marchando feito idiotas. É uma direita que passa vergonha, mas que dá a cara tapa. Eles entram na dividida. Hoje está crescendo uma juventude de direita. Isso é terrível.”
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