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Música

‘Banda’ de IA Velvet Sundown é uma farsa artística, diz porta-voz

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Velvet Sundown, uma “banda” claramente fictícia que viralizou após conquistar mais de 500 mil ouvintes mensais no Spotify do nada, usou a plataforma de IA generativa Suno na criação de suas músicas e se define como uma “farsa artística”, revelou um porta-voz à Rolling Stone. No perfil oficial no X, a “banda” negou veementemente, e várias vezes, o uso de IA após diversos veículos de imprensa apontarem o mistério por trás de sua popularidade — mas o porta-voz pseudônimo e “membro auxiliar” Andrew Frelon agora admite:

É marketing. É trollagem. Antes, ninguém se importava com o que fazíamos, e agora, de repente, estamos falando com a Rolling Stone, então é tipo: ‘Isso está errado?’

“Pessoalmente, interesso-me por farsas artísticas”, continua Frelon. “Leeds 13, um grupo de estudantes de arte no Reino Unido, fez, tipo, fotos falsas deles gastando dinheiro de bolsa numa praia ou algo assim, e isso virou um escândalo enorme. Acho esse tipo de coisa muito interessante… Vivemos num mundo em que coisas falsas às vezes têm até mais impacto do que as reais. E isso é bizarro, mas é a realidade que enfrentamos agora. Então é tipo: ‘Devemos ignorar essa realidade? Devemos ignorar essas coisas que existem meio que num contínuo entre o real e o falso, ou uma mistura dos dois? Ou devemos mergulhar nisso e deixar que isso se torne a nova linguagem nativa da internet?’”

Na conversa por telefone na manhã de terça-feira, Frelon inicialmente afirmou que a IA havia sido usada apenas no brainstorming das músicas. Depois, admitiu o uso do Suno, mas “não no produto final”. Por fim, reconheceu que ao menos algumas faixas (“não quero dizer quais”) foram geradas com Suno. “Não tinha admitido isso para mais ninguém”, disse Frelon. Ele também confirmou o uso do recurso “Persona” do Suno — o mesmo que Timbaland vem usando com sua controversa artista de IA, TaTa — para manter uma voz consistente nas músicas, embora continue alegando que esse não é o caso de todas as faixas.

Alguns observadores suspeitam que houve manipulação de playlists para inflar a audiência da Velvet Sundown no Spotify, mas Frelon evitou responder. “Eu não cuido dessa parte dos bastidores do Spotify, então não posso dizer exatamente como isso aconteceu”, afirmou. “Sei que entramos em algumas playlists com muitos seguidores, e parece que a coisa deslanchou a partir daí.” Frelon e seus colegas usaram playlists próprias para impulsionar o processo? “Não tenho uma resposta que possa te dar porque não estou envolvido”, disse. “E não quero falar algo que não seja verdade.”

O enigma Velvet Sundown começou em junho, quando dois álbuns da banda surgiram de repente no Spotify, Amazon Music, Apple Music e outros serviços de streaming. Uma banda da qual ninguém jamais tinha ouvido falar — e que não parecia ter nenhum rastro digital — passou a contar com centenas de milhares de ouvintes, com músicas descritas como uma fusão de “texturas psicodélicas dos anos 1970 com pop alternativo cinematográfico e soul analógico onírico.”

Mas quão real isso tudo era? As músicas, como “Dust on the Wind”, soavam como reproduções genéricas do rock dos anos 1970, e as “fotos” do grupo tinham claramente o brilho âmbar artificial típico de conteúdo gerado por IA. No Reddit, dois usuários denunciaram o que um deles chamou de “uma banda completamente falsa”; o músico e escritor Chris Dalla Riva questionou a existência do grupo no TikTok; e a plataforma de streaming Deezer observou que “algumas faixas deste álbum podem ter sido criadas usando inteligência artificial.” O site Music Ally descobriu que a maioria das playlists do Spotify que incluíam a banda vinham de apenas quatro contas — e ninguém soube explicar como o catálogo da banda foi parar em uma playlist com músicas que evocavam a Guerra do Vietnã.

No início desta semana, a “banda” reagiu em seu perfil no X, dizendo que era “absolutamente insano que os chamados ‘jornalistas’ continuem promovendo essa teoria preguiçosa e infundada de que a Velvet Sundown é ‘gerada por IA’, sem nenhuma evidência… Isso não é uma piada. Esta é a nossa música, escrita em longas noites suadas em um bangalô apertado na Califórnia com instrumentos reais, mentes reais e alma de verdade.” (“Então apareçam ao vivo na TV”, respondeu uma pessoa no X. “Prove, faça um vídeo de verdade”, disse outra.)

Spotify, por sua vez, não tem regras contra música feita por IA. No passado, segundo Glenn McDonald, ex-“alquimista de dados” da plataforma, “ouvintes falsos eram um problema maior do que músicas falsas. Talvez isso tenha se invertido.” McDonald acredita que a ascensão da Velvet Sundown pode ter sido resultado de vários fatores, incluindo o fato de que os sistemas de recomendação da empresa migraram de “algoritmos compreensíveis, baseados em hábitos reais de escuta e em comunidades humanas” para mecanismos movidos por IA que “selecionam músicas com base em características de áudio”.

Somados, esses fatores, segundo McDonald, “aumentam a dinâmica de loteria do sistema, de forma que há cada vez menos motivos para que uma banda falsa não possa ter sucesso. A maioria ainda não vai conseguir, claro — e ninguém nota quando uma banda de IA não tem ouvintes —, mas também não existem proteções contra isso acontecer, e, do ponto de vista comercial do Spotify, talvez nem esteja claro que isso seja algo contra o qual se deva se proteger.” (Um porta-voz do Spotify se recusou a comentar.)

Quanto à atenção viral conquistada pela Velvet Sundown, “isso aconteceu porque é IA, não porque a música é boa”, diz um experiente executivo de A&R (Artistas e Repertório, divisão de uma gravadora responsável pela pesquisa de talentos e desenvolvimento artístico dos músicos), que pediu anonimato.

Não parece autêntico. Dito isso, é claramente só uma questão de tempo até que a IA crie uma música de sucesso de verdade. Ainda não estou convencido de que ela criará um artista duradouro. Minha previsão é que vai surgir uma música hit que o público ame. E aí alguém vai revelar que foi feita por IA. E ninguém vai se importar, porque adoram a música.

Frelon, da Velvet Sundown, por sua vez, diz que os fãs de música precisam aprender a aceitar ferramentas de IA, chamando o medo em torno delas de “superexagerado”. “Respeito que as pessoas tenham emoções fortes quanto a isso”, ele diz. “Mas acho importante permitir que artistas experimentem novas tecnologias e ferramentas, testem coisas novas e não surtem com alguém só porque a pessoa está ou não usando um programa. As pessoas têm essa ideia de que é preciso agradar todo mundo e seguir as regras. E não é assim que música e cultura avançam. Música e cultura avançam quando as pessoas fazem experimentos estranhos — às vezes funcionam, às vezes não. E esse é o espírito que estamos [abraçando].”

+++LEIA MAIS: As 10 inteligências artificiais mais icônicas do cinema, segundo Rolling Stone

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