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Novo estudo mostra que cigarros eletrônicos descartáveis são piores que cigarros comuns

Eles podem ser menores que seus equivalentes recarregáveis, mas alguns cigarros eletrônicos descartáveis na verdade liberam mais metais tóxicos do que vapes mais antigos e até mesmo que cigarros tradicionais, segundo um novo estudo da Universidade da Califórnia, em Davis, publicado na revista ACS Central Science.
Os cigarros eletrônicos descartáveis são os sistemas de entrega de nicotina mais recentes no mercado, e também os mais populares, especialmente entre adolescentes, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), em relatório de 2024. Diferente dos vapes tradicionais, que são recarregados com cápsulas, os descartáveis já vêm prontos para o uso e são jogados fora após o consumo.
Esses dispositivos são compostos por bobinas metálicas e outros componentes de metal que ficam em contato constante com o líquido que contém nicotina, aromatizantes e ácidos orgânicos. Quando sais de nicotina são adicionados a essa solução e aquecidos, o processo faz com que o metal se dissolva. Ou seja, ao dar uma tragada, o fumante está inalando metais tóxicos em forma de aerossol junto com a nicotina.
“Já sabemos há muito tempo que, quando você aquece uma bobina [em um cigarro eletrônico] e ela passa pelo ciclo de calor, com o tempo ela libera metais,” diz Brett Poulin, PhD, professor assistente no Departamento de Toxicologia Ambiental da UC Davis e autor sênior do estudo. “Muita gente já documentou isso em diversos tipos de cigarros eletrônicos. Mas a parte única deste estudo é que encontramos elementos no que chamamos de ‘e-líquido virgem’, ou seja, antes mesmo do dispositivo ser usado pela primeira vez”.
Esse design é conhecido como “sistema fechado”, ou seja, você não troca a bobina, algo que, segundo Poulin, era comum em dispositivos de gerações anteriores, e isso pode ajudar a explicar por que os cigarros eletrônicos descartáveis mais novos são mais nocivos. “E, então, quando você tem um sistema fechado, acaba basicamente acumulando muitos desses metais com o tempo, e termina com concentrações mais altas no aerossol que as pessoas respiram”, ele disse à Rolling Stone.
Além disso, os pesquisadores descobriram que os cigarros eletrônicos descartáveis continham antimônio — um metalóide tóxico — que não havia sido detectado nas gerações anteriores desses dispositivos. “Identificamos [o antimônio] em altas concentrações nos e-líquidos não utilizados desses aparelhos,” afirma Mark Salazar, doutorando no laboratório de Poulin. “E percebemos que, conforme os dispositivos envelhecem e são usados cada vez mais, a quantidade de antimônio tóxico liberado também aumenta com o tempo”.
Por que, então, componentes que liberam metais tóxicos estão sendo usados em cigarros eletrônicos descartáveis? “Só podemos especular”, diz Poulin. “Mas como esses dispositivos não são reutilizáveis, eles são projetados apenas para durar o ciclo de vida deles, que pode variar entre 500 e alguns milhares de tragadas. Isso leva ao uso de muitos componentes baratos, como ligas à base de chumbo”. Ele afirma que não está claro por que os fabricantes optam por essas peças de menor qualidade, mas sugere que “pode haver um incentivo para produzir produtos mais baratos, então eles usam materiais mais econômicos, em vez de aço inoxidável ou componentes metálicos de melhor qualidade”.
Os pesquisadores testaram versões aromatizadas e “transparentes” de três dos produtos mais populares — Esco Bar, Flum Pebble e ELF Bar — e encontraram “emissões excessivas de elementos metálicos tóxicos” nos aerossóis de todos eles. Atualmente, existem quase 100 marcas de cigarros eletrônicos descartáveis no mercado, mas a Food and Drug Administration (FDA) autorizou apenas quatro produtos: NJOY DAILY Rich Tobacco (4,5% e 6%) e NJOY DAILY EXTRA Menthol (4,5% e 6%).
Os fabricantes do Flum Pebble e do ELF Bar não responderam imediatamente ao pedido de comentário da reportagem. Um porta-voz da Esco Bar enviou à Rolling Stone a seguinte declaração: “O teste realizado não foi feito com um vape original da EscoBar. É importante que o pesquisador entenda que o mercado está inundado de produtos falsificados vindos da China. Esses vapes falsos geralmente não são testados nem certificados, e são eles que frequentemente apresentam essas irregularidades. Todos os nossos vapes passam por testes laboratoriais e são totalmente aprovados”.
Para avaliar se as concentrações de metais tóxicos nesses três modelos de cigarros eletrônicos descartáveis seriam preocupantes para a saúde humana, Salazar fez uma análise de risco com base em uma estimativa de uso típico desses dispositivos, considerando 100 tragadas por dia como referência — o que Poulin afirma ser “na verdade, uma estimativa bem conservadora com base nos padrões de uso conhecidos”. A partir disso, foi possível calcular a quantidade de metal tóxico à qual um fumante estaria exposto. Os níveis de chumbo, níquel e antimônio ultrapassaram os limites considerados seguros.
Para ajudar a colocar esses dados em perspectiva, os pesquisadores compararam os riscos à saúde dos cigarros eletrônicos descartáveis com outros tipos de tabagismo, e descobriram que os dispositivos da Esco Bar liberavam mais chumbo durante um dia de uso do que o equivalente a 19 maços de cigarros tradicionais.
O que isso significa para a saúde dos usuários desses cigarros eletrônicos descartáveis? “Níquel e antimônio são carcinógenos respiratórios, ou seja, podem causar não apenas inflamação nos pulmões, mas também câncer”, afirma Poulin.
O chumbo é um potente neurotóxico, e o que nos preocupa é que esses dispositivos geralmente têm sabores e são voltados para o público jovem. A preocupação é que adolescentes e jovens estejam sendo expostos a níveis altos de chumbo justamente em uma fase crítica de desenvolvimento do sistema neurológico.
Fumar cigarros eletrônicos descartáveis também pode causar fibrose pulmonar, diz Salazar, mas isso provavelmente aconteceria mais adiante no tempo. “Esses descartáveis estão no mercado há apenas cerca de cinco ou seis anos, e muitas dessas doenças levam anos — talvez décadas — para se manifestar”, ele explica. “Então, não temos certeza total de quais serão os efeitos a longo prazo, mas pelos dados que apresentamos, vemos que há potencial para preocupação aqui”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Elizabeth Yuko, no dia 27 de junho de 2025, e pode ser conferido aqui.
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