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Júri inicia deliberações no julgamento de Sean Combs (Diddy)

Após sete semanas de depoimentos, as acusações de tráfico sexual e extorsão contra Sean Combs, mais conhecido como o rapper Diddy, estão agora nas mãos do júri.
Na manhã de segunda-feira, o juiz Arun Subramanian deu aos jurados — compostos por oito homens e quatro mulheres — o que se conhece como “instruções ao júri”, um conjunto de orientações sobre o caso, antes de eles começarem as deliberações. Tanto a acusação quanto a defesa haviam encerrado seus casos na semana anterior, após apresentarem seus argumentos finais. Após o início das deliberações, Combs e sua família fizeram um círculo de oração, deram as mãos e baixaram a cabeça, antes de aplaudirem em seguida.
Cerca de uma hora após o início das deliberações, o júri enviou um bilhete ao juiz Subramanian dizendo: “Temos um jurado, o nº 25, sobre o qual estamos preocupados por não conseguir seguir as instruções de Vossa Excelência.” Os advogados de ambas as partes se reuniram enquanto Subramanian sugeria enviar uma resposta perguntando se o jurado “não consegue seguir por falta de compreensão” ou se há uma “relutância em seguir as instruções.” Após a reunião, o juiz enviou um bilhete de volta ao júri dizendo: “Lembro a todos os jurados do dever de deliberar e da obrigação de seguir minhas instruções sobre a lei. Com isso em mente, por favor, continuem deliberando.”
O júri não chegou a um veredicto na segunda-feira, 30, e continuará as deliberações na manhã de terça. No final do dia, o júri enviou um segundo bilhete solicitando esclarecimento sobre se o ato de uma pessoa pedir uma substância controlada e outra entregá-la pode ser considerado distribuição. O juiz pediu que ambas as partes discutissem uma resposta, que será entregue ao júri nesta terça, 1º de julho.
Combs enfrenta cinco acusações criminais, incluindo conspiração para extorsão, duas acusações de tráfico sexual relacionadas a duas ex-namoradas, e duas acusações de transporte com intenção de promover a prostituição. Ele nega todas as alegações.
Durante a fala final da promotoria aos jurados na última quinta, 26, a procuradora-assistente dos EUA Christy Slavik chamou Combs de “líder de uma organização criminosa.” Ela afirmou que ele usava violência, silêncio e “vergonha” para coagir mulheres a participarem de encontros sexuais alimentados por drogas com acompanhantes masculinos (conhecidos como “freak-offs”), para satisfazer suas fantasias voyeuristas.
Slavik disse que Combs se recusava a “aceitar um não como resposta” e sempre conseguia o que queria. Ela também afirmou que o apoio que ele recebia de seu círculo próximo e de suas empresas o tornava ainda “mais poderoso e mais perigoso”, alegando que o magnata comandava uma equipe de segurança “armada e pronta” para protegê-lo contra qualquer ameaça percebida.
Durante sua apresentação de cinco horas, Slavik conectou diferentes pontos dos depoimentos de várias testemunhas, especialmente das ex-namoradas e acusadoras de Combs, Casandra “Cassie” Ventura e uma mulher que testemunhou sob o pseudônimo de “Jane”. Slavik relembrou como ambas se sentiam “obrigadas” a participar — e às vezes facilitar — os encontros sexuais para manter Combs satisfeito.
Ela disse que Combs esperava “obediência total” e, quando não a recebia, reagia com agressividade, especialmente contra Ventura, que relatou inúmeros episódios de violência doméstica durante seu testemunho. “Ela sabia que, quando ele estava feliz, ela estava segura,” disse Slavik. “Se o réu queria um ‘freak off’, ele iria acontecer.”
Ao explicar as acusações contra Combs ao júri, a promotora Christy Slavik disse que os jurados poderiam condená-lo por extorsão se determinassem que ele e ao menos um dos supostos co-conspiradores concordaram em cometer dois dos oito chamados atos “subjacentes” listados na acusação (como suborno, distribuição de drogas, incêndio criminoso, sequestro, tráfico sexual, trabalho forçado, obstrução de testemunha ou transporte para fins de prostituição). Ela também afirmou que Combs poderia ser considerado culpado de tráfico sexual se os jurados decidissem que ele coagiu as mulheres a participarem de apenas um ato sexual indesejado com um acompanhante masculino pago.
Após os jurados deixarem a sala na segunda-feira, os promotores fizeram uma objeção à forma como a defesa apresentou as provas que seriam enviadas à sala do júri. A advogada Emily Johnson disse que havia um acordo para deixar em branco os campos de assunto de comunicações eletrônicas, como mensagens de texto, e alegou que a defesa descumpriu esse acordo no caso das mensagens enviadas por BlackBerry. Johnson argumentou que essas mensagens eram mais parecidas com textos do que com e-mails e, portanto, repetir uma linha como se fosse o “assunto” do conteúdo era impróprio. Ela citou como exemplo uma linha considerada inadequada: “Estou com tanto tesão que não consigo me concentrar.” A advogada de defesa Anna Estevao rebateu, dizendo que as mensagens do BlackBerry se assemelhavam mais a e-mails. O juiz Subramanian ficou ao lado da promotoria, concordando que as listas de provas de ambas as partes deveriam ser “neutras”.
Na sexta-feira anterior, o advogado de defesa de Combs, Marc Agnifilo, respondeu com um discurso inflamado, muitas vezes sarcástico. Ele classificou o caso como “falso”, “exagerado” e como um esforço desmedido para criminalizar a vida sexual privada do magnata. Segundo ele, Combs apenas vivia um “estilo de vida” colorido, com relacionamentos abertos com namoradas amorosas, encontros a três em hotéis, uso recreativo de drogas e episódios lamentáveis de violência doméstica.
Agnifilo também argumentou que Combs não era um chefe do crime, mas sim um “empreendedor negro, bem-sucedido e autodidata” que construiu “negócios maravilhosos, sofisticados e reais que resistiram ao tempo.” Para tentar desacreditar a acusação, ele debochou de algumas das provas mais sensacionalistas apresentadas pelo governo, como as caixas de óleo de bebê apreendidas nas buscas feitas nas casas de Combs no ano passado.
“Graças a Deus pela equipe de resposta especial,” ironizou Agnifilo. “Eles encontraram o Astroglide! Encontraram o óleo de bebê! Encontraram tipo cinco comprimidos de Valium. Mandaram bem, rapazes.” (Durante uma pausa, um dos promotores classificou os comentários de Agnifilo como “profundamente ofensivos” e “completamente inadequados.” Agnifilo respondeu: “Acho que tenho o direito de ser sarcástico.”)
Ao rebater a parte do caso baseada no depoimento de Casandra Ventura, Agnifilo chamou o relacionamento dela com Combs de “uma grande história de amor moderna” e chegou a parecer emocionado ao comentar mensagens amorosas trocadas entre os dois. Embora não tenha negado os episódios violentos — incluindo o vídeo de segurança infame que mostra Combs agredindo Ventura em um hotel —, ele argumentou que Ventura participava de forma voluntária e até gostava dos freak offs.
“Ela é de alto nível,” argumentou. “Ela não está se fazendo de recatada.”
Da mesma forma, Agnifilo afirmou que “Jane” também teria gostado dos encontros. Ele chegou a acusá-la de estar “mentindo” ao dizer que Combs a enforcou, chutou e empurrou durante uma briga em julho de 2024 que teria levado a um freak off forçado.
Ao pedir ao júri que absolvesse Combs, Agnifilo declarou: “Peço que tenham coragem e façam o que precisa ser feito. Ele está ali, inocente. Devolvam-no à sua família, que está esperando por ele.”
Dirigindo-se ao júri pela última vez durante a réplica, a promotora Maurene Comey afirmou que a defesa apresentou “desculpa atrás de desculpa para um comportamento criminoso imperdoável.”
Combs enfrenta prisão perpétua caso seja condenado por todas as acusações.
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