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nova esperança no combate ao câncer

Pesquisadores da Universidade do Mississippi descobriram que um composto de açúcar presente nos pepinos-do-mar pode bloquear a enzima Sulf-2, envolvida no avanço do câncer. Publicada na revista Glycobiology, a pesquisa indica que essa substância pode frear a multiplicação das células cancerosas.
O pepino-do-mar, um invertebrado marinho, produz compostos únicos que não são encontrados em vertebrados terrestres. “Os açúcares presentes nesses animais são diferentes e valiosos para estudo”, explica Marwa Farrag, doutoranda e autora principal do estudo.
Como o pepino do mar combate o câncer
As células humanas possuem glicanos na superfície, estruturas que auxiliam na comunicação celular e respostas imunes. Células cancerosas alteram a expressão da enzima Sulf-2, que modifica esses glicanos e favorece o crescimento do tumor. “Se conseguirmos inibir essa enzima, podemos combater a proliferação do câncer”, afirma o professor Vitor Pomin.
Usando modelagem computacional e testes laboratoriais, a equipe identificou que o sulfato de condroitina fucosilado, açúcar extraído do pepino-do-mar Holothuria floridana, inibe a Sulf-2. Robert Doerksen, professor de química medicinal, destaca que a combinação de resultados experimentais e simulações computacionais reforça a eficácia da descoberta.
Um diferencial importante é que esse composto não afeta a coagulação do sangue, evitando efeitos colaterais comuns em outros medicamentos que atuam na Sulf-2. “Muitos inibidores da enzima podem causar sangramentos, mas este não apresenta esse problema”, explica Joshua Sharp, professor de farmacologia.
Vantagens e desafios
Além disso, a extração do açúcar do pepino-do-mar oferece menor risco de contaminação por vírus, ao contrário de outros compostos derivados de animais terrestres, tornando-o um recurso “mais limpo e seguro”, segundo Pomin.
Porém, a baixa disponibilidade natural do pepino-do-mar impede a produção em larga escala. Por isso, o próximo passo é desenvolver métodos laboratoriais para sintetizar o composto, viabilizando testes futuros em modelos animais. “Precisamos criar uma rota química para produção, o que abrirá caminho para aplicações práticas”, diz Pomin.
O estudo contou com a colaboração de especialistas em química, farmacognosia e biologia computacional das universidades do Mississippi e Georgetown. Segundo Pomin, a abordagem interdisciplinar é essencial para enfrentar doenças complexas como o câncer.