Celebridade
‘É importante debater esses temas’

Em entrevista à Revista CARAS, Pedro Goifman reflete sobre personagem na novela ‘Garota do Momento’. O ator debate ao falar de machismo e homofobia
Filho dos cineastas Kiko Goifman (57) e Claudia Priscila (53), Pedro Goifman (22), que cresceu no cinema e começou a atuar criança, estreou nos folhetins como o Guto, da global Garota do Momento. “Novela está no nosso imaginário, então sempre tive essa curiosidade”, avisa o ator, em papo com CARAS no Portinho, no Rio de Janeiro.
Durante o bate-papo, o ator fala sobre suas experiências, debate assuntos importantes levantados pela trama, como homofobia e machismo, e ainda conta como tem sido morar sozinho pela primeira vez.
– Você já fez séries e filmes. Quando começou a atuar?
– Atuo desde os 5 anos. Cresci indo ao teatro, ao cinema, ao circo. Sempre gostei muito e fui estimulado, até que enchi o saco dos meus pais dizendo que queria atuar e comecei a fazer testes. Em paralelo a isso, comecei a estudar circo. Sou malabarista, estudei palhaçaria, teatro corporal com máscara, fiz trapézio, tecido. Com uns 12 anos já estava fazendo malabares com facão, com fogo.
– Como foi estrear em novela?
– Maravilhoso! É muito trabalho, mas é uma linguagem muito legal. O que mais tem me estimulado é essa coisa de ser uma obra aberta, de o público poder interagir, ser quase um coautor. Isso engrandece muito, não só porque o público interfere na trama, nas coisas que estão funcionando e nas que não estão, mas serve também como medida para a gente. Gosto de ver as redes sociais, dar uma olhada no que estão achando.
– Por conta da novela, você se mudou para o Rio de Janeiro e está morando sozinho. Tem gostado da experiência?
– É muito diferente estar numa cidade com praia, é outro corpo, as pessoas se relacionam de outra forma e isso também é um estudo para a novela, porque o Guto é carioca. E é muito bom ir ao samba, a um barzinho, à praia… é uma cidade muito bonita nesse sentido. E sobre morar sozinho, amo minha mãe, amava morar com ela, mas gosto muito de ficar sozinho também. Gosto da solidão, da solitude, de ficar tranquilo, olhando a vista, lendo um livro, vendo um filme. Sou bem caseiro, tranquilo, mas estou gostando também de uma vida mais animada no Rio.
– Garota do Momento levanta pautas importantes, como machismo, racismo, homofobia. Apesar de ser ambientada nos anos 1950, a novela tem cenas que parecem atuais…
– Durante as gravações, a gente conversou bastante sobre fabulação crítica, sobre como a gente está construindo um passado para discutir sobre o presente, futuro e possibilidades. É interessante inventar o passado, com base, claro, em estudo da época. A Anita, apresentada pela Maria Flor, é uma personagem que discutiu a questão do machismo. O Nelson— papel de Felipe Abib — é um cara autoritário, machista e tem uma relação difícil com os filhos, ele tem a expectativa dessa masculinidade que não se concretiza. Os filhos se sentem reprimidos de formas diferentes, porque era mais pesada essa pressão da sociedade — e ainda é muito. É importante debater esses temas e é um pouco triste ver como a sociedade continua muito preconceituosa. Tem que seguir fazendo projetos artísticos que provoquem esse debate para que a gente consiga, de alguma forma, mudar pelo menos alguma coisinha.
– O Guto se descobriu gay e a abordagem da sexualidade dele foi feita de forma delicada.
– Me sinto muito honrado de estar fazendo esse personagem que carrega questões fundamentais. A gente vive num mundo muito homofóbico e nos anos 1950 era ainda pior, mas continua. Eu me emociono lendo muitas cenas e é gostoso saber que o Guto está chegando às pessoas que ele tem que chegar, que estão se identificando, refletindo. Talvez ele esteja abrindo portas para famílias que não conversavam muito sobre isso. Tenho recebido relatos bonitos.
– Você é bissexual. Em algum momento se viu nesse processo de descoberta do Guto?
– Eu tenho estudado James Dean, porque era um grande ídolo dessa geração, e o François Truffaut falava que o James era um ator que conseguia, assim como Charles Chaplin, que é uma grande inspiração para mim, trabalhar em paralelo ao personagem. Nem de fora e nem de dentro, era paralelo, caminhando junto. E isso me parece bem interessante. As linhas entre ficção e realidade vão se confundindo muitas vezes e não só com a questão da sexualidade, mas com tudo. Não dá para a gente separar completamente um personagem da gente. Sempre tem coisas nossas no personagem, sempre tem coisas do personagem na gente. Acho que carrego todos os personagens que fiz, o Guto tem todos eles e os próximos terão o Guto. Já tinham, porque o Guto já estava em mim de certa forma, está tudo na gente, tudo no texto. Todo personagem que eu fizer, vou me identificar em algum grau, mesmo que seja um personagem horrível. O que é um pouco assustador para os atores, né (risos)?
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