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Com um fiapo de história, Extermínio 3 falha ao tentar ser filmaço

Retratando o fim do tempos e a devastação do planeta e da humanidade, histórias de zumbis são pratos cheios para uma infinidade de narrativas. Não é à toa que existem inúmeras produções do tipo e outras tantas surgem a cada ano. Porém, não são todas que conseguem impressionar os fãs de um gênero tão “batido” ao ponto de mantê-los investidos por quase 20 anos sem novidades, como é o caso de Extermínio.
Iniciada em 2002 sob o comando de Danny Boyle(Trainspotting, Quem Quer Ser Um Milionário?), roteiro de Alex Garland (de Guerra Civil, com Wagner Moura) e protagonizada por Cillian Murphy, vencedor do Oscar por Oppenheimer (2023), a franquia acaba de ganhar um terceiro capítulo, Extermínio: A Evolução, que estreia nos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (19).
Ignorando a trama da primeira sequência, Extermínio 2, lançada em 2007, e com poucas ligações com o longa original, a novidade apresenta um novo grupo de sobreviventes, isolados em uma ilha, que tenta viver uma vida normal 28 anos após o Reino Unido ser devastado por uma mutação do vírus da Raiva.
Desde os primeiros trailers divulgados, embalados pelo poema Boots (Botas, em tradução livre), de Rudyard Kipling, em que o autor imagina um ciclo de guerras como uma marcha eterna da humanidade até o inferno, Extermínio: A Evolução tem se apresentado como o prenúncio de algo sublime: um grande confronto contra os infectados, uma luta por sobrevivência entre os que ainda resistem em uma terra devastada ou algo do tipo.
No entanto, qualquer ousadia que a novidade poderia ter é substituída por um didatismo exagerado, clichês de dar vergonha e um roteiro fraco e absurdamente conveniente, que expurga o suspense da experiência, deixando-a completamente estéril.
Na primeira parte da história, quando Jamie (Aaron Taylor-Johnson, Kraven: O Caçador) leva o filho, Spike (Alfie Williams, O Rei do Crime), para visitar o continente pela primeira vez, parece que estamos passando pelo prólogo de um jogo de videogame.
Nele, aprendemos como nos situar naquele novo mundo: como sair da ilha, como andar pelo continente, quem é o inimigo, como matá-lo. São como pequenas missões, para que possamos aprender a manusear a sua arma, a ver o medo como uma realidade e saiba como lidar em uma situação de estresse — com direito a enfrentar o “chefão” daquela fase e tudo mais.
Mas isso é só primeiro teste. A história realmente começa quando a dupla retorna ao isolamento de sua ilha e, em uma conversa com um de seus vizinhos, Spike descobre que há um médico no continente e, apesar das más línguas, ele pode ajudar a descobrir o que há de errado com a sua mãe, Isla (Jodie Comer, Free Guy: Assumindo o Controle), e ajudá-la com uma doença misteriosa, que a atormenta há um tempo.
Em conflito com o pai, Spike sequestra a mãe e consegue levá-la para o continente, apesar de suas debilitações. E é aí que o show de horrores começa: tudo é muito conveniente para a jornada do garoto. Em nenhum momento há o que temer, porque nós sabemos que cada “situação-limite” será favorável Spike.
Uma horda de zumbis em sua cola? O garoto se torna um mestre em arco e flecha. Uma loja de conveniência mergulhada em gás? Ela até pode explodir, mas o rapaz irá sair ileso. Há um longo caminho a percorrer com a mãe incapaz? Não haverá um infectado no caminho. Está na mira de um dos monstros? A mãe irá se recuperar milagrosamente para salvá-lo. E esses momentos se estendem até o último minuto do filme.
Chega a ser admirável a capacidade de Alex Garland de entregar um filme de quase duas horas com um conteúdo de um curta de 10 ou 15 minutos, no máximo, sobre um garoto buscando esperança em um mundo em que ela já não existe. Poderia funcionar, se realmente nos importássemos com esses personagens, mas não há desenvolvimento suficiente para que isso aconteça.
Danny Boyle, por sua vez, talvez na tentativa de inovar a franquia após tantos anos, trocou o estilo quase documental e realista de Extermínio, que conquistou as pessoas em primeiro lugar, por uma direção… extravagante, para dizer o mínimo, responsável por completar os vazios do roteiro de Garland.
Há grandes momentos — a cena em que Spike está em uma ponte com uma cachoeira caindo atrás dele é um deles, entre outras belíssimas tomadas —, mas há um exagero na sobreposição de imagens e algumas escolhas duvidosas — como a forma de retratar as mortes dos zumbis, com um efeito constrangedoramente similar aos dos jogos de Mortal Kombat—, que tornam a experiência cansativa e com ares de que está tentando demais ser algo que, na verdade, não é.
Quem esperava saber mais sobre o universo de Extermínio, especialmente quase 30 anos após a exposição ao vírus mortal, deve se frustrar com Extermínio: A Evolução: a tal evolução ficou apenas no título brasileiro e o que nós temos é um filme sem intenção ou direcionamento, que apenas emula o que nós já vimos tantas vezes em outras produções do gênero, como The Last of Us e The Walking Dead, por exemplo.
Diria que é uma pena uma franquia com tanto potencial ter um fim como esses, mas Extermínio já tem um novo capítulo, 28 Years Later: The Bone Temple (Extermínio: O Templo dos Ossos, em tradução livre), já gravado e confirmado para 2026. O que me resta é torcer para que, no novo filme, a proposta de mostrar a evolução da epidemia ao longo dos anos tenha sido melhor trabalhada. Ninguém quer um copy/paste do primeiro filme, é óbvio, mas não dá para falar em evolução quando, 28 anos antes, nós sabíamos mais desse universo do que sabemos agora.
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