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Dificuldade em engravidar vira movimento social e livros sobre infertilidade

A história de Luly Correia Vuyk começa com uma dor compartilhada por muitas mulheres: a infertilidade vivida em silêncio. Após anos de tentativas frustradas, incluindo coito programado, inseminações, perdas gestacionais e falhas com óvulos próprios, Luly só realizou o sonho da maternidade aos 45 anos, com a terceira tentativa de fertilização in vitro (FIV) utilizando óvulos doados. O desfecho feliz foi o nascimento de gêmeas, mas, para ela, esse era apenas o início.
“Hoje minha voz é para lembrar que congelar óvulos não é apenas para a mulher que deseja ter filhos mais tarde, mas principalmente para aquela que diz que não quer ter filhos — porque a chave pode virar. Foi o que aconteceu comigo. Mas eu não tive o benefício da informação.”
Desde a última tentativa de FIV, mesmo sem saber se daria certo, Luly já tinha uma certeza: ela contaria sua história para transformar a dor em rede de apoio. Foi assim que, em novembro de 2018, nasceu o Laços da Fertilidade, que começou como um espaço de escuta e cresceu até se tornar um movimento. Hoje, conecta pacientes, clínicas e especialistas de diferentes regiões do Brasil e do mundo, promovendo educação, prevenção e apoio emocional sobre reprodução assistida, com atenção à diversidade familiar e inclusão.
Trilogia infantojuvenil pioneira sobre doação de gametas
Transformar uma história pessoal em literatura infantil pode parecer improvável, mas foi exatamente isso que Luly fez ao criar a primeira trilogia infantojuvenil do Brasil sobre fertilização in vitro com doação de gametas (óvulos e espermatozoides). Os livros são:
- “Laços de fita no jardim encantado” (2022): conta de forma lúdica sua jornada com a ovodoação.
- “O lindo voo solo de Eva” (2024): inspirado na doação de embriões excedentes.
- “Um Oceano de Possibilidades” (2025): aborda a fertilização com sêmen doado, completando a trilogia.
A trilogia se tornou uma ferramenta importante para famílias que desejam contar aos filhos sobre sua origem, promovendo pertencimento com sensibilidade. Os livros incluem ilustrações artísticas, textos técnicos acessíveis e prefácios de especialistas, como embriologistas e psicólogos.
“Finalizar a trilogia é realizar um sonho. Um desejo enorme que nasceu em 2022, quando escrevi meu primeiro livro e percebi a importância desse material — ele ajuda, acolhe e direciona as famílias geradas através dessas técnicas, mostrando um caminho de como contar aos filhos sobre sua origem e pertencimento.”
Podcast, campanhas e movimento social
Neste mês de junho, Luly lança o ÓvuCast, um podcast com histórias reais, entrevistas com especialistas e temas como congelamento, infertilidade masculina, LGBTQIAPN+, oncofertilidade e acolhimento ético. O projeto é responsável por campanhas sociais como:
- #BoraCongelar – Incentivo à criopreservação de gametas e embriões.
- #DiaDeDoarÓvulos – Ovodoação com responsabilidade e empatia.
- #DiaDeDoarEmbriões – Educação afetiva sobre embriodoação.
- #DiaDeDoarSêmen – Doação consciente com foco na diversidade familiar.
Apoio a tratamentos para baixa renda
Em 2025, o Projeto Social Dia de Doar, liderado por Luly, conta com uma nova frente: pela primeira vez, a campanha apoiará uma instituição parceira que oferece tratamento de reprodução assistida para pacientes de baixa renda — o projeto N.Tentativas, criado por Natália Bastos.
A iniciativa já beneficiou mais de 75 famílias e possibilitou o nascimento de 11 bebês.
Para ampliar a ajuda, Luly hoje busca apoio de empresas, clínicas, laboratórios e demais instituições interessadas em patrocinar ou firmar parcerias. “Quero ser o abraço que me faltou. E garantir que ninguém mais enfrente essa jornada sem apoio ou informação.”