Música
Turnê de Kendrick Lamar e SZA é uma exibição fascinante do poder das estrelas

Na semana passada, fez um ano desde que Kendrick Lamar colocou fogo na reputação de Drake — e o mundo do rap ainda sente as brasas desse incêndio. Em apenas uma semana, músicas como “Euphoria”, “6:16 In LA” e, claro, “Not Like Us”, superaram a resposta de Drake nessa guerra relâmpago de palavras, e consagraram Kendrick como o rapper de sua geração aos olhos de muitos. Ele aproveitou esse impulso para lançar GNX, álbum com 12 faixas que estreou em primeiro lugar no Top 200. Foi com essa onda de energia que ele chegou ao MetLife Stadium, na parada da sua Grand National Tour, ao lado da conterrânea de Jersey, SZA. Os dois estão em alta demanda. A cantora e compositora de 35 anos é uma superestrela da música por mérito próprio, e juntos ofereceram à região do tri-state um show principal raro.
O show começou com DJ Mustard, que fez o possível para aquecer o público com clássicos do rap antes de Kendrick e SZA subirem ao palco. O design do palco lembrava um pouco o formato em diamante do set de Kendrick no intervalo do Super Bowl, com um palco principal que levava a três bases menores. Esse design deu bastante espaço para que os dois se movimentassem e interagissem com os fãs nas áreas inferiores, o que eles fizeram ao longo de toda a apresentação. Atrás deles, havia uma enorme tela tripla.
Do meu ponto de vista à direita do palco, pude ver como os dois usaram os ângulos para projetar uma visão panorâmica em determinados momentos. A tela teve funções diferentes ao longo do show: para SZA, mostrava paisagens serenas que combinavam com seu repertório etéreo; já Kendrick usou vídeos dele mesmo em março de 1992 durante “DNA”, e reforçou seu ataque à identidade de Drake com uma colagem de ícones da cultura negra em “Not LikeUs”.
Kendrick foi o primeiro a aparecer, saindo de um carro Grand National preto sob o palco e começando com “Wacced Out Murals” (o carro de onde SZA emergiu estava naturalmente coberto de hera). Os dois se alternaram ao longo da noite, com uma troca fluida. Kendrick diminuiu o clima com “Man At The Garden”, que levou à “Scorsese Baby Daddy”, de SZA. Ela encerrou seu set solo com “Kiss Me More”, que deu sequência às faixas finais de Kendrick.
Eles também colaboraram em faixas como “30 for 30” e “Luther”. As trocas também permitiram que ambos trocassem de figurino várias vezes. Kendrick alternava principalmente um look camuflado, tirando e colocando a jaqueta. Já SZA estava em modo estrela de cinema, com quatro trocas de roupa. Mas, independentemente do figurino, o público estava hipnotizado. SZA apostou em luzes e fogos de artifício, enquanto Kendrick usou bolas de fogo, especialmente durante seus ataques a Drake.
O público, de idades variadas, mas em maioria com menos de 35 anos, provavelmente descobriu Kendrick e SZA em diferentes fases de suas carreiras que já duram mais de uma década — alguns talvez só tenham começado a acompanhar no ano passado. As músicas mais recentes de Kendrick pareciam receber mais reconhecimento. Ele até brincou com isso, pedindo ao público que virasse para os vizinhos, como em um culto, e perguntasse se conheciam uma de suas músicas mais antigas. Já vi Kendrick em arenas e festivais várias vezes, e ele manteve o mesmo nível de excelência em seu show de estádio, com rimas rápidas e sem perder o ritmo. Ele também trouxe novidades ao vivo, como um novo verso em “Family Ties” e um remix de “mA.A.d city” com base de Anita Baker.
Embora o nome da turnê e o momento estivessem centrados em Kendrick, o público de Jersey adorou SZA. Eles vibraram com seus hits pop como “Kill Bill” e músicas emocionais como “Nobody Gets Me”, todas cantadas com segurança e sem vocais de apoio. Ela teve guitarristas tocando em várias músicas, como “F2F”. Reconhecendo a importância da ocasião, ela exclamou: “Tô em casa ou não estou?”, e mais tarde declarou com Kendrick que “o mito de que Nova York não tem energia acabou”. Embora ela não tenha feito seu número no ar devido aos ventos do Nordeste, entregou um set variado, dançando por todo o palco.
Ambos os artistas enfrentaram o “elefante na sala” diretamente. Kendrick cantou seu verso de “Poetic Justice”, enquanto SZA recitou sua parte em “Rich Baby Daddy”. Curiosamente, Kendrick evitou dizer “Oakland” quando rimou “that __ show gonna be your last stop” em “Not Like Us”. Mas isso não deve ser confundido com clemência. Ele performou “Euphoria” e “Not Like Us” — sendo que a primeira teve o uso mais direto e simbólico da tela gigante: “Lies About Me, Truth About You” (“Mentiras Sobre Mim, Verdades Sobre Você”) apareceu em letras vermelhas sobre um fundo preto. E enquanto o público foi ao delírio com “A minor…” e “we don’t wanna hear you say ni*** no more”, o evento não foi um ataque direto a Drake. A plateia parecia igualmente animada para cantar o refrão de “Don’t Kill My Vibe” e o “I do” durante a apresentação de “I Hate U” por SZA.
Os dois passaram por seus grandes sucessos, usando bem todo o palco, assim como os dançarinos que os acompanharam com coreografias variadas. Quando várias mulheres rebolaram durante o verso “show me something natural” de “Humble”, foi como um adlib visual. Algumas delas chegaram a erguer SZA em uma faixa, e reforçaram sua coreografia em outras. Um dançarino ainda fez uma rotina solo ao final de “Squabble Up”, parecendo quase um co-protagonista.
Entre as músicas, havia clipes bem-humorados dos dois sendo “interrogados”. Embora o vídeo exibido antes de “Not Like Us” tenha viralizado, o show contou com vários outros. Em um deles, Kendrick repreende o entrevistador por sugerir, de forma contraditória, que ele some do público e ainda assim busca atenção. Em outro, as pessoas têm dificuldade em pronunciar o nome de SZA, o que talvez explique por que ela purifica o ambiente com sálvia em outro trecho. No fim do set, os dois mostram seu lado cômico em uma esquete sobre uma parada para lanches em um posto de gasolina. A química musical de anos entre os dois ficou clara tanto na tela quanto no palco.
Ambos se esforçaram ao máximo para envolver a multidão — e conseguiram, com muito movimento, vocais fortes, animações criativas nos telões, pirotecnia e iluminação. O show durou duas horas e meia, mas raramente teve momentos lentos. Cada um fez um bom trabalho ao rechear seus sets com músicas animadas para manter o público ligado. Já são veteranos experientes, e isso ficou evidente mesmo nessa primeira turnê por estádios. Estavam ali a trabalho — no melhor sentido possível.
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