Por que algumas pessoas optam por não ter filhos? Estudo revela ligação com estilo de apego aos pais

Um novo estudo publicado no Personality and Social Psychology Bulletin revela que os laços emocionais com os pais podem influenciar diretamente a decisão de não ter filhos. A pesquisa, que analisou dados de mais de 18 mil adultos em diversos países, mostra que indivíduos com apego emocional evitativo aos pais têm maior probabilidade de escolher uma vida sem filhos. Já os que apresentam apego mais ansioso tendem a demonstrar um desejo ligeiramente maior construir a própria família.

A decisão de não ter filhos — por escolha, e não por circunstâncias — é cada vez mais comum, especialmente em sociedades industrializadas. Mas além de questões econômicas ou ambientais, o estudo aponta que fatores psicológicos profundos, como os estilos de apego formados na infância, estão entre os principais determinantes dessa escolha.

Os estilo de apego aos pais

O estilo de apego é a forma como uma pessoa se relaciona emocionalmente com outras, especialmente figuras significativas como pais, parceiros e amigos. No estudo, os pesquisadores identificaram três padrões principais:

• Apego seguro: conforto com intimidade e confiança nos relacionamentos
• Apego ansioso: medo de rejeição e desejo constante de segurança
• Apego evitativo: desconforto com a intimidade e tendência ao distanciamento emocional

Os participantes que demonstraram evitação no apego aos pais foram os mais propensos a se identificar como “sem filhos”, ou seja, pessoas que decidiram não ter filhos biológicos, adotivos ou de qualquer outra forma. Por outro lado, aqueles com apego ansioso aos pais apresentaram uma leve tendência contrária, demonstrando mais interesse pela parentalidade.

Curiosamente, o apego aos parceiros românticos não teve influência significativa nessa decisão, mas o apego inseguro aos amigos próximos também mostrou alguma associação com o desejo de não ter filhos.

Liberdade pessoal é o principal motivo

Entre os entrevistados que se declararam sem filhos, cerca de 12% da amostra total, a motivação mais comum foi o desejo de manter a liberdade e a autonomia. Dois terços dessas pessoas afirmaram que ter filhos é incompatível com seu estilo de vida ou seus objetivos pessoais.

Outros motivos frequentemente citados incluem:

• Preocupações com o estado do mundo e o meio ambiente
• Dificuldades financeiras ou de carreira
• Saúde mental
• Perda de identidade pessoal
• Falta de afinidade com crianças

Pessoas com apego ansioso eram mais propensas a citar motivos emocionais, como preocupações com o futuro ou com a saúde mental. Já aquelas com apego evitativo apontavam principalmente questões ligadas ao estilo de vida, como o desejo de preservar sua liberdade individual.

Relações com os pais moldam escolhas futuras

De acordo com a autora do estudo, Sara Glass, da Universidade de Illinois, a relação com os pais pode influenciar como os indivíduos se enxergam no papel de cuidadores. A ausência de vínculos seguros pode gerar dúvidas, inseguranças ou até rejeição à ideia de repetir a experiência parental.

Embora o estudo não permita afirmar uma relação de causa e efeito, ele sugere que padrões emocionais construídos na infância podem afetar decisões importantes da vida adulta, como ter ou não filhos.