Celebridade
Médico lista famosos com diagnóstico de transtornos do neurodesenvolvimento e explica cada caso

Em entrevista à CARAS Brasil, o neurologista Matheus Trilico destaca a neurodiversidade após muitos famosos compartilharem suas lutas após diagnósticos
A neurodiversidade – conceito que reconhece e valoriza as diferentes formas de funcionamento cerebral existentes na população, especialmente condições como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) – está cada vez mais em pauta no Brasil. Parte dessa visibilidade deve-se a figuras públicas que, com coragem e sensibilidade, compartilham suas trajetórias e inspiram o rompimento de tabus históricos no país. A seguir, o neurologista Matheus Trilico lista alguns casos e explica cada um deles em entrevista à CARAS Brasil.
LETÍCIA SABATELLA: ‘FOI LIBERTADOR ENTRENDER QUEM EU SOU’
Um dos principais nomes dessa mudança de mentalidade é Letícia Sabatella (54). Segundo a renomada atriz, receber o diagnóstico de TEA (em grau leve, anteriormente conhecido como Síndrome de Asperger) aos 52 anos trouxe um alívio intenso. “Foi libertador entender certos comportamentos que sempre tive”, revelou ela, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
O diagnóstico tardio permitiu a Sabatella reconectar experiências do passado sob nova ótica, às vezes antes vistas como falhas ou excentricidades, mas agora compreendidas como manifestações naturais da neurodiversidade.
Segundo Trilico, em adultos, especialmente mulheres, o diagnóstico costuma ocorrer tardiamente devido ao desenvolvimento de estratégias de camuflagem social ao longo da vida. “Muitos passam anos acreditando que são apenas ‘diferentes’ ou ‘estranhos’, sem saber que há uma explicação neurobiológica por trás desses traços”, pontua. “Letícia usa hoje sua visibilidade para conscientizar o público, mostrando que o TEA pode se manifestar de forma sutil e merece respeito e inclusão na diversidade humana”, emenda.
TATÁ WERNECK: CRIATIVIDADE E TDAH
Outro exemplo de autenticidade é Tatá Werneck (41). A apresentadora já falou abertamente sobre como o TDAH faz parte de sua vida. “Minha mente funciona a mil por hora, sempre foi assim. O diagnóstico me ajudou a entender que não era apenas ‘falta de foco’”, contou a famosa, em entrevistas.
Em sua trajetória artística, ela demonstra diariamente como canaliza o pensamento acelerado e a criatividade própria do TDAH em sucesso profissional no humor e na televisão.
De acordo com Matheus Trilico, o que muitos veem como dispersão pode ser, na verdade, uma forma distinta de processamento mental, frequentemente associada a criatividade elevada e à capacidade de enxergar múltiplas perspectivas. “O TDAH, quando compreendido e bem direcionado, pode ser um grande diferencial. Por outro lado, quando não tratado, pode ser devastador na vida da pessoa”, ressalta.
O TDAH, estima o especialista, afeta entre 2,5% e 4,4% dos adultos no Brasil, reforçando a importância do diagnóstico e acompanhamento para que talentos como Tatá possam florescer sem estigma e recebendo o tratamento adequado.
NICOLE LOUISE: A NOVA GERAÇÃO QUEBRA BARREIRAS
Já para a cantora e compositora Nicole Louise (42), participante do reality musical Estrelas da Casa, da TV Globo, em 2024, trazer à tona temas ligados ao diagnóstico de TEA ou TDAH representa a força de uma nova geração que enfrenta o preconceito desde cedo. Nicole pode ser um exemplo disso, com potencial para contribuir ativamente com a visibilidade do tema, mostrando como características neurodivergentes podem coexistir de maneira potente com a sensibilidade artística e musical.
“Infelizmente, o autismo também pode trazer muita ingenuidade. Nicole, por exemplo, relatou, recentemente, que chegou a ser dopada nos EUA. No Instagram, a cantora contou que começou a passar mal após beber água na casa do dono do estúdio e precisou ser socorrida”, comenta o médico.
DIAGNÓSTICO TARDIO
Segundo Trilico, o reconhecimento tardio de TEA e TDAH em adultos é um fenômeno crescente, graças à conscientização e diminuição do preconceito – que ainda é grande. “Muitas manifestações não se encaixam nos padrões clássicos descritos para crianças, e, por isso, passam despercebidas por décadas. A visibilidade proporcionada por personalidades da mídia é fundamental para incentivar outras pessoas a buscarem ajuda e a entenderem melhor a si mesmas, sem romantizar ou banalizar o assunto”, salienta.
Ainda de acordo com o especialista, estima-se que o TEA atinja em torno de 1% da população adulta, e hoje cresce o número de relatos — principalmente de mulheres — que só recebem um diagnóstico na vida adulta, reescrevendo sua história pessoal com mais entendimento e acolhimento.
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