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Deep Purple fala à RS sobre show no Brasil, longevidade, Alice Cooper e Black Sabbath

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Deep Purple fala à RS sobre show no Brasil, longevidade, Alice Cooper e Black Sabbath


“Sendo brutalmente honesto: se não tivessem oferecido tanto dinheiro, não teríamos aceitado voltar”, disse à Rolling Stone Brasil, aos risos, o bem-humorado vocalista Ian Gillan ao comentar o retorno tão breve do Deep Purple ao país. O grupo, um dos maiores da história do hard rock e inegável pioneiro do heavy metal, esteve por aqui em setembro último, para se apresentar no Rock in Rio e, sozinho, em São Paulo. Agora, retornam à megalópole paulista em 15 de junho para compromisso único: eles encerram o quarto e último dia de Best of Blues and Rock, festival no Parque Ibirapuera. Nas outras datas, tocam Dave Matthews Band, Alice Cooper, entre outros.

A relação do Purple com o Brasil é tão profunda quanto a cor roxa de seu nome. Ao longo de seus orgulhosos 57 anos de carreira, a banda inglesa nos visitou 14 outras vezes — com a primeira ocasião em 1991 —, somando mais de 70 shows. Caso raríssimo: nem o Iron Maiden, outro membro da turma do “traz o CPF”, tocou tanto aqui. “É sempre divertido estar aí”, conta Ian Paice, baterista e único a participar de todas as formações. “Quando você viaja para tão longe, tem que aproveitar — leva muito tempo no avião, mas quando você chega, sabe que vai ser muito divertido.”

Os dois Ians — Gillan e Paice —, o baixista Roger Glover, o tecladista Don Airey e o baterista Simon McBride conversaram juntos com a Rolling Stone Brasil diretamente de Nashville, cidade nos Estados Unidos onde trabalham no que deve se transformar em um novo álbum, o 24º de estúdio e o sucessor de =1 (2024), elogiadíssimo por trazer de volta uma sonoridade mais pesada. Cortesia de McBride, que se juntou à formação em 2022 no lugar deixado por Steve Morse. O “novinho” de 46 anos — em contraste aos demais septuagenários — trouxe de volta algumas influências que remetem a tempos mais ousados, ainda com o intempestivo membro fundador Ritchie Blackmore no instrumento.

Deep Purple em 2024
Deep Purple em 2024 – Foto: Per Ole Hagen / Redferns

Sobre o disco, despistaram, com razão, pois o processo de concepção ainda se encontra em estágios iniciais. Paice, responsável pela maior parte das respostas do grupo, comenta:

“Ainda não estamos gravando, mas estamos muito, muito perto disso. Estamos selecionando as melhores músicas que criamos. No momento, estamos aqui em Nashville com Bob Ezrin [produtor], e provavelmente entraremos em estúdio em 10 ou 12 dias, algo assim. Aí veremos o que acontece. Se for bom, vocês vão ouvir. Se não for, vocês nunca vão ouvir.”

Deep Purple em 2024
Deep Purple em 2024 – Foto: Scott Legato / Getty Images

O fato de o Deep Purple ter reservado boa parte de seu 2025 para trabalhar em material inédito transforma o show no Best of Blues and Rock em algo ainda mais especial. Neste ano, a banda só se apresentará em São Paulo, em junho, e na Geórgia e Emirados Árabes Unidos, em novembro. Os músicos ainda não definiram o repertório, mas há chances de surgir algo diferente do que se ouviu ano passado, no Rock in Rio e na data solo em São Paulo. Aliás, ao relembrar o festival carioca, o quinteto relata ter visto e cumprimentado Neal Schon, guitarrista da também atração Journey. Paice, em observação mais longa, elogia o evento:

“É impressionante o tamanho do Rock in Rio. Quando você está lá, é como se mudar para uma cidade diferente, com os muros ao redor, todos os palcos, a comida e a bebida. É uma produção incrível. Acho que não existe nada tão grande quanto isso, nunca vi em nenhum lugar do mundo.”

O amigo Alice Cooper — e a longevidade

Deep Purple e Alice Cooper, atrações principais do segundo fim de semana de Best of Blues and Rock, são amigos de longa data. Já se apresentaram juntos em ocasiões diversas, compartilham o mesmo produtor — o já mencionado Bob Ezrin — e Cooper, rei do shock rock, contou com a presença dos amigos na sua festa de 75 anos, em 2023. Naquela noite, o Purple compôs “Show Me”, faixa que abre o álbum =1.

Ian Paice afaga o colega de profissão:

“Alice é um dos artistas de nível mais alto, difícil de se estar no mesmo patamar. É um cara adorável, muito divertido de se estar junto. Sempre que nos vemos, é uma noite agradável, seja pelo lado musical ou por apenas bater papo.”

Em comum, além do som pesado e da consagração mundial, ambos começaram suas carreiras ainda na década de 1960 e seguem se apresentando muito bem. Para Ian Gillan, tamanha longevidade não é coincidência, pois, em suas palavras, “existe uma comunhão absoluta entre público e artista”. Ele complementa: “Há um elemento de confiança ali. Não é falso. É real. Não se esconde isso com publicidade, truques ou qualquer tipo de artifício”.

Seu colega baterista aponta algo tão importante quanto: ele e os parceiros se divertem muito fazendo o que fazem. A palavra “aposentadoria” sequer foi entrevistada na pergunta, mas ele deixa claro: está fora dos planos interromper as atividades, como haviam cogitado na década anterior com uma turnê de despedida agora revogada.

“Começamos ainda garotos tocando em pubs, ou na garagem, porque era divertido. Até hoje, subir no palco e fazer tudo isso nos deixa felizes. Algumas noites são mais problemáticas do que outras, mas, via de regra, você está fazendo algo que gosta. Não se tem a obrigação de ir para o escritório às 8h30 de segunda-feira. Somos abençoados por ter encontrado algo em nossas vidas que nos faz felizes. E parece que isso também faz muitas outras pessoas felizes. Todos ganham. Um dia, esperançosamente em um futuro distante, não seremos mais capazes de fazer isso. Então, enquanto pudermos fazer isso e nos divertir, por que diabos pararíamos?”

Uma pergunta para cada integrante

Ao fim do bate-papo, uma pergunta sobre temas nada relacionados ao Deep Purple foi dedicada a cada músico. Só assim para ouvir algo de todos. Neste caso, serão apresentadas as íntegras da questão e da resposta.

Ian Gillan e Black Sabbath

Rolling Stone Brasil: Ian Gillan, recentemente Tony Iommi disse que pretende remixar seu único álbum com o Black Sabbath, Born Again (1984), para relançá-lo com uma nova sonoridade. Você sempre criticou as mixagens deste álbum, mas acha que um remix pode de alguma forma melhorar as músicas? E também, qual é a sua opinião sobre as músicas em si?

Ian Gillan:“Acho as músicas ótimas. Só achei ridículo. A mixagem ficou absurda. Um dia, o engenheiro desapareceu do estúdio. E alguém assumiu. Não vou dizer quem, porque o baixista deve permanecer em segredo. Mas acho que foi remixado e só dava para ouvir o grave. Se você já viu o filme This is Spinal Tap (1984), essa é a história de Born Again. A moça da gravadora ou o assessor de imprensa disse ao empresário: ‘Não dá para tocar’. E foi exatamente isso que aconteceu. O nível do grave era tão alto que não dava para tocar no rádio. Havia sido logo depois do surgimento da música digital. Então, as pessoas ainda usavam agulhas. E era impossível. Eu tenho uma fita cassete com uma mixagem do retorno que é 10 vezes melhor que o som do álbum. Se eles vão remixar, é um pouco tarde. Mas sim, provavelmente para aficionados, colecionadores ou algo assim… não sei. Mas tem algumas músicas lá que eu realmente acho ótimas. É sempre uma alegria compor com Tony e certamente nos divertimos muito fazendo o disco. Tem uma música lá chamada ‘Trashed’, que foi composta no dia seguinte ao que quer que esteja por trás da história. Foi uma época fantástica. Eu curti a turnê. Foi a festa mais longa em que já estive. Durou um ano. Acho o álbum realmente ótimo. Sempre é tempo. Sempre reconhecemos o fato de que Ozzy é o vocalista do Black Sabbath. E as pessoas se identificaram com isso. Então foi uma situação meio híbrida e estranha. Mas, no geral, graças a Deus eles vão remixar.”

Black Sabbath com Ian Gillan em 1984
Black Sabbath com Ian Gillan em 1984 – Foto: Chris Walter / WireImage

Roger Glover e a ópera rock esquecida

RS: Roger Glover, recentemente perdemos o baterista Les Binks e antes de se juntar ao Judas Priest, ele tocou com você no álbum The Butterfly Ball and the Grasshopper’s Feast (1974). Dizem que ele conseguiu entrar no Judas Priest através de você. Que lembranças você tem do Les Binks?

Roger Glover:“Antes de entrar para a Purple, eu era de uma banda pop. Mas compor era realmente meu principal desejo. Com o Purple, éramos conhecidos por um estilo específico. Então, quando saí da banda (em 1973), estava livre para fazer o que quisesse. E isso simplesmente surgiu. Foi divertido me afastar do Purple e fazer experimentos com diferentes tipos de músicas e cantores (David Coverdale, Glenn Hughes, John Lawton, Tony Ashton, Barry St. John, Ronnie James Dio, entre outros) e tipos de músicas. É algo que continua vivo de alguma forma e continua voltando até mim. Um dia, provavelmente será um musical de teatro, ou algo assim. Quem sabe?”

Roger Glover em 1974
Roger Glover em 1974 – Foto: Watal / Asanuma / Shinko Music / Getty Images

Don Airey e o álbum segurado pela pandemia

RS: Don Airey, você lançou recentemente um novo álbum solo, Pushed to the Edge. O que você pode nos contar sobre este álbum? Como foi criá-lo e gravá-lo?

Don Airey:Pushed to the Edge foi gravado há bastante tempo, em 2019. Mas foi pego pela covid, então, só terminei em 2022. Nesse meio tempo, Simon McBride entrou para o Purple e lançaríamos um álbum do Purple, então Pushed to the Edge foi ‘colocado de canto’. Não achei que lançaria, cheguei a dizer para meu filho: ‘depois que eu partir, certifique-se de trazer esse álbum de volta’. De repente, recebemos a notícia de que o lançaríamos. Foi uma grande surpresa. Soa muito bom. Estou satisfeito.”

Don Airey em 2024
Don Airey em 2024 – Foto: Frank Hoensch / Redferns

Simon McBride e as gravações guardadas

RS: Simon McBride, você também lançou um álbum, Recordings 2020-2025, com covers de Duran Duran, The Cure, Free, entre outros, além de músicas originais. O que você pode nos contar sobre esse álbum?

Simon McBride:“Eu tinha guardadas todas essas músicas que gravei. E como este ano o Purple daria uma pausa, quis fazer turnês por conta própria. O agente e a equipe queriam algo para lançar neste ano, então tinha essa coleção de coisas guardadas. Havia esses vários covers que fiz para a gravadora, foram lançados em pequenos EPs nos últimos cinco anos. E também havia esse set gravado ao vivo em estúdio com minha banda em Hamburgo. Então, decidimos juntar tudo. Por isso o título Recordings 2020-2025 — poderia ter pensado em um título melhor, mas não me incomodei.”

Simon McBride em 2024
Simon McBride em 2024 – Foto: Frank Hoensch / Redferns

Ian Paice e a única demissão de sua vida

RS: Por último, mas não menos importante… Ian Paice, é verdade que você foi demitido do Whitesnake em 1982? A única demissão da sua vida?

Ian Paice:“[Risos] Eu não gostei. Acho que aconteceu porque David Coverdale estava tentando manter um perfil alto na mídia com a banda, o que significava para ele que pessoas deveriam ser vistas na cena noturna de Londres o tempo todo. Bem, esse não sou eu. E eu não estava preparado para mudar minha vida pelos desejos do David. Cozy Powell estava disponível e morava na cidade. Ele estava sempre por perto. Era mais a vida dele do que a minha. Então, não acredito que tenha sido uma decisão musical. Foi algo que o David achou que seria bom para ele e para a banda se ele tivesse alguém para sair todas as noites. Não tive qualquer ressentimento. Eu me diverti muito com o Whitesnake durante aqueles dois ou três anos, seja lá o que for (nota do editor: entre 1979 e 1982). Aproveitei a maior parte. E olha, as coisas mudam o tempo todo. Fui demitido uma vez.”

Roger Glover:“Até agora. [Risos]”

Whitesnake com Ian Paice em 1980
Whitesnake com Ian Paice em 1980 – Foto: Paul Natkin / Getty Images

Serviço — Best of Blues and Rock 2025

Local: Parque Ibirapuera, São Paulo

Lineup:

  • Sábado, 7 de junho: Dave Matthews Band, Richard Ashcroft, Cachorro Grande, Vitor Kley
  • Domingo, 8 de junho: Dave Matthews Band, Richard Ashcroft, Barão Vermelho, Soul Lee: Paula Lima canta Rita Lee
  • Sábado, 14 de junho: Alice Cooper, Black Pantera, Charlie Brown Jr Marcão Britto & Thiago Castanho
  • Domingo, 15 de junho: Deep Purple, Judith Hill, Hurricanes

Ingressos:Eventim

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