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100 homens conseguiriam derrotar um gorila em uma luta? Primatologistas explicam

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100 homens conseguiriam derrotar um gorila em uma luta? Primatologistas explicam



A internet. Alguns a chamam de a maior loucura da humanidade. Um oceano sem fim de ódio, depravação, golpes, desinformação e disputas vazias por relevância. Se essa tecnologia nos trouxe até o presente, como ela poderia ser algo bom?

Mas, de vez em quando, somos lembrados do verdadeiro potencial embutido em nossas plataformas digitais. Uma pergunta afiada atravessa o ruído e exige atenção coletiva, como se fosse uma questão de vida ou morte — ou talvez o real motivo pelo qual todos estamos conectados aqui. São os “e se” que capturam nossa imaginação, acendem debates acalorados e, como não têm resposta definitiva, nos mantêm acordados até altas horas da madrugada.

Proposta pela primeira vez no TikTok há alguns anos, a provocação mental que está dominando as redes sociais nesta semana segue a clássica estrutura do “quem venceria” em um combate hipotético entre pessoas e/ou criaturas selvagens. Neste caso, os combatentes são, de um lado, um grupo de 100 homens não especificados — e, do outro, um único gorila, um daqueles nobres grandes símios herbívoros encontrados na África equatorial. Como tal confronto ocorreria ou o que os participantes fizeram para merecer, tal destino é irrelevante.

@yuri5kpt2

my man saying the gorilla win and another saying the 100 men 🤣

♬ original sound – th.bangman

O ponto é debater a plausibilidade de os humanos ou o gorila saírem vitoriosos em uma batalha de força bruta. As opiniões divergem, como você deve imaginar, e embora muitos afirmem que dezenas de homens comuns não teriam chance contra um gorila poderoso, foi um post provocador no X (antigo Twitter) que realmente incendiou a discussão: “Acho que 100 caras conseguiriam vencer um gorila, todo mundo só precisa estar comprometido com o bagulho”, escreveu o usuário @DreamChasnMike na última quinta-feira, desencadeando o frenesi do gorila.

Os memes explodiram a partir daí. Internautas imaginaram todos os tipos de desfecho: desde o gorila “indo para a balada após detonar 100 idiotas”, até poupando o último humano “para contar para os outros o que aconteceu”. Outros sugeriram estratégias humanas, como tentar imobilizar o animal de 180 kg em grupo, fingir de morto quando os membros começassem a voar ou até mesmo trair a própria espécie para se aliar ao primo primata. “Tô do lado do gorila”, escreveu o comediante Niles Abston. “F***-se vocês. O mercado de trabalho já está lotado.”

Outro usuário do X sugeriu usar linguagem de sinais para comunicar: “Eu Michael. Michael amigo do gorila. Michael não luta com gorila. Michael trai homem por gorila amigo.” Enquanto isso, Encyclopedia Britannica entrou na brincadeira e publicou um “Kit de Estudo: 100 Homens vs. 1 Gorila”, com diagramas anatômicos. Já o youtuber MrBeast postou uma thumbnail de vídeo fake com o conceito e a legenda: “Preciso de 100 homens para testar isso, voluntários?” Até Elon Musk entrou na onda, respondendo: “Claro, o que pode dar errado?”

Tudo bem brincar com esse tipo de ideia absurda numa conversa de bar ou no grupo do WhatsApp, com apenas noções vagas sobre os fatores envolvidos. Mas já que o tema tomou conta das redes, por que não consultar os especialistas? Por isso, a Rolling Stone resolveu — com certo pesar — ocupar o tempo de três profissionais qualificados para analisar, de uma vez por todas, como seria esse embate de 100 homens contra 1 gorila.

“Como conservacionista, eu jamais gostaria de ver isso se tornando realidade,” alerta Ron Magill, fotógrafo de vida selvagem e diretor de comunicação do Zoo Miami, conhecido por comentar essas questões excêntricas no programa esportivo The Dan Le Batard Show With Stugotz. Magill lembra que, na prática, “gorilas são ‘gigantes gentis’ e evitariam esse tipo de confronto sempre que possível”, sendo que um gorila-das-montanhas só se tornaria agressivo para proteger sua família. “O que essa pergunta revela é que algumas pessoas têm tempo demais nas mãos e gostam de criar cenários que alimentam a curiosidade mórbida”, diz. “Mas cá estou eu participando também.”

Na visão dele, 100 homens em seus 20 e poucos anos, em ótima forma física, poderiam derrotar um gorila se “estivessem comprometidos e agissem em unidade”. Isso não quer dizer que seria algo bonito. A ofensiva humana “teria que esperar por danos colaterais graves, incluindo mortes por pescoços quebrados, mordidas arteriais profundas, concussões fatais por hemorragia cerebral e asfixia por serem esmagados uns sobre os outros”, afirma.

“Seria uma missão kamikaze para quem estivesse mais próximo do gorila.” Mesmo os sobreviventes poderiam sair paralisados ou desfigurados. “Se eles aceitarem isso,” diz Magill, “o grupo poderia dominar o gorila e causar traumas contundentes suficientes, torções violentas de cabeça e pescoço, além de socos abdominais severos, até o animal sucumbir por pescoço quebrado, danos internos ou asfixia.” Mas isso só funcionaria com coordenação total — “como se criassem uma camisa de força humana ao redor do gorila.”

Michelle Rodrigues, primatóloga e integrante da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), concorda que, em situações normais, um gorila jamais enfrentaria 100 homens. “Por mais fortes que sejam, e mesmo com o estrago que seus caninos podem causar, não é uma luta justa, e um gorila sensato tentaria fugir,” ela afirma. “Em termos puramente numéricos, não acho que um gorila sozinho teria muita chance.”

Segundo Rodrigues, a desvantagem do gorila não é apenas a inferioridade numérica. “Gorilas e humanos são sociais, e o número de aliados pesa muito nas decisões de entrar em confronto,” explica. Gorilas vivem em grupo, e machos que não têm fêmeas ao redor geralmente se juntam em grupos de solteiros. Um gorila sozinho é raro, e o contexto social afeta sua disposição para lutar. “A força física, musculatura e dentes afiados dos gorila-das-montanhas são resultado da competição entre machos, especialmente na defesa do grupo. Mas eles não são agressivos por natureza.” Além disso, primatas sabem quando estão em desvantagem. Chimpanzés, por exemplo, fazem ataques letais a grupos rivais apenas quando têm superioridade numérica comprovada.

Obviamente, se os 100 homens souberem cooperar, as chances aumentam — afinal, somos primatas também. Mas se o embate fosse contra um grupo de mamíferos sociais com tamanho semelhante? Outra história. Rodrigues cita o torneio anual March Mammal Madness, organizado por biólogos, onde animais se enfrentam em simulações baseadas em pesquisa e probabilidade. “Teve um ano com uma divisão só de mamíferos sociais, e até neandertais participaram — mas surpreendentemente, não chegaram à final.”

Há também questões práticas. “Como cientista, tenho muitas perguntas,” diz Cat Hobaiter, primatóloga da Universidade de St Andrews, na Escócia. “São 100 caras normais, ou 99 normais e o The Rock?” Ela presume o primeiro caso, com espaço limitado para o confronto, então “o ataque viria com seis ou oito por vez, sem armas.”

“Muita gente foca no tamanho,” diz Hobaiter. “Gorilas são grandes — um gorila-das-montanhas pode pesar uns 200 kg — mas não tão maiores que 100 homens. O que importa é o poder muscular.” Todos os símios têm fibras musculares lentas e rápidas. As rápidas dão explosão. Humanos têm metade de cada. Gorilas têm mais de 85% de fibras rápidas — o maior índice entre os primatas. “Ou seja, quilo por quilo, eles são absurdamente mais fortes do que nós.” Ela também cita outras adaptações: “Se for um gorila-das-montanhas, ele vive a 3 mil metros de altitude — o tipo de lugar onde um humano normal já fica ofegante só de subir uma escada.”

Se os homens forem impedidos de atacar todos de uma vez, como na teoria de Magill, as chances caem muito, diz Hobaiter. “Sinceramente, 100 homens não teriam a menor chance. Estariam ofegantes, batendo no gorila como crianças cansadas, e um único soco dele já acabaria com eles.” E se os outros 92 não perceberem isso após os primeiros oito serem nocauteados com facilidade, “é porque não são exatamente gênios estratégicos.”

A conclusão de Hobaiter mostra que, mesmo entre especialistas, ainda há espaço para discordância quando se trata de brigas entre primatas. Mas, como seus colegas, ela não acredita que um gorila se envolveria nesse tipo de absurdo. “A única chance dos humanos seria que gorilas são os primatas mais tranquilos, pacíficos e divertidos que já tive o privilégio de estudar,” diz Hobaiter. “A maioria dos gorilas-das-montanhas preferiria tirar um cochilo, comer algo gostoso, brincar com os filhotes e tirar outro cochilo… Gorilas sabem viver bem — e isso não inclui ficar imaginando se conseguiriam nocautear 100 humanos.”

E isso porque eles ainda não têm redes sociais. Por enquanto.

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