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Por que o Ira! não toca mais “Pobre Paulista”, segundo Nasi

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Por que o Ira! não toca mais “Pobre Paulista”, segundo Nasi



Dentre o vasto repertório do Ira!, uma música específica costuma gerar polêmica e tem sido alvo de críticas ao longo do tempo: “Pobre Paulista”. Lançada originalmente no EP homônimo de 1984, ela foi um dos primeiros sucessos da banda de São Paulo, mas atualmente está fora do setlist.

Composta pelo guitarrista Edgard Scandurra, a letra é acusada de conter ofensas xenofóbicas, supostamente ao povo nordestino, por conta do seguinte trecho: “Não quero ver mais essa gente feia / Não quero ver mais os ignorantes /Eu quero ver gente da minha terra / Eu quero ver gente do meu sangue”.

Em entrevista ao canal TV Fórum, da Revista Fórum, o vocalista Nasi comentou sobre o assunto e explicou a decisão de parar de tocar “Pobre Paulista”. Conforme transcrição da Rolling Stone Brasil, ele afirmou:

“Por que o Ira! resolveu parar de tocar? Porque a polêmica ficou maior que a música. Então, a gente resolveu: ‘Cara, se alguma pessoa, por não entender a letra, porque viu fake news, porque houve um texto assim, e se incomoda com isso, paramos de tocar’. A ‘Pobre Paulista’ não é maior que o Ira! O Ira! tem uma dezena de sucessos. Então, não foi passar recibo. Foi só o seguinte: ‘Cara, vamos parar de tocar essa música e encerrar o assunto’.”

Nasi abordou o contexto da época, já que a música foi composta por Edgard Scandurra ainda no fim da década de 1970, e fez uma leitura pessoal a respeito do que considera ser uma “metáfora” endereçada aos “reacionários do final dos anos 70”.

‘Pobre Paulista’ é uma música que o Edgard compôs quando tinha ainda 16 anos de idade. Conheci o Edgard na escola, e ele tocava no violão e nós nunca tivemos essa intenção ou essa leitura, porque como o Edgard cresceu, nós crescemos na ditadura, era muito comum você fazer metáforas, até para fugir da censura. E metáforas, às vezes, infelizmente, dão interpretações diferentes. E pessoas que eram detratoras resolveram falar que isso era para nordestino, coisa assim. Imagina, baita público no Nordeste, eu amo. Eu até brinco, falo: ‘Gente, sou mais baiano que paulista’. Hoje eu pago dois IPTUs na Bahia e eu não sou da Bahia.
Agora, isso veio à tona também porque acho que quando o Edgard quis dizer, porque foi ele que escreveu e eu interpreto, ‘gente feia’ e ‘gente ignorante’, eram já os reacionários do final dos anos 70. ‘Gente feia e ignorante’ é isso. É gente que vai lá fazer o que fizeram no 8 de janeiro, é gente que vai dar golpe. Isso é gente feia, aliás, oh povo feio, e ignorante.”

O que diz o autor sobre “Pobre Paulista”

Autor da música, Edgard Scandurra também já refletiu sobre a letra de “Pobre Paulista”. Em entrevista ao podcast MPB Bossa (via Whiplash), o guitarrista declarou:

“Quando escrevi aqueles versos, eu estava no universo do adolescente que eu era, e, na época, a ideia era mais atingir meus pais, os professores que eu não gostava, as pessoas mais velhas. Nunca fui um bom aluno, sabe? A coisa acabou tomando uma proporção preconceituosa, como se fosse algo extremamente bairrista em relação a São Paulo. Usei muitas metáforas infelizes para falar de pessoas sem citar nomes, e isso acabou atingindo gente que eu não queria atingir.”

Ele admite que se arrepende do teor polêmico da letra de “Pobre Paulista”.

“Ao mesmo tempo, tinha aquela coisa punk dentro de mim, que achava legal ter uma polêmica. Por um momento, pensei: ‘Ah, tudo bem, minha consciência está tranquila, e essa polêmica pode ser boa’. Mas não é boa. Não é bom ouvir alguém dizer: ‘Poxa, aquela letra que você fez é preconceituosa’. Hoje, com 62 anos (em 2024), com filhos e com toda uma vida, eu vejo que isso não faz sentido. Amo meu país, amo as pessoas, e não tem motivo para isso.”

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