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Descoberto efeito perturbador de um tipo de antidepressivo na função cerebral

Um estudo realizado por cientistas suecos do Instituto Karolinska sugere que o uso de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), um dos antidepressivos mais prescritos globalmente, pode acelerar a perda de memória em pacientes com demência.
Impacto do antidepressivo na função cognitiva
A pesquisa analisou dados de quase 19.000 pacientes com demência, com idade média de 78 anos. Destes, cerca de 20% faziam uso de antidepressivos, sendo os ISRS os mais comuns (65%). Os pacientes foram acompanhados por um período médio de quatro anos, durante o qual suas capacidades cognitivas foram monitoradas por meio de testes de memória.
Os resultados indicaram que aqueles que tomavam antidepressivos tiveram uma redução adicional de 0,3 pontos por ano em um teste de memória de 30 pontos, em comparação com os que não utilizavam tais medicamentos. Especificamente para os ISRS, essa redução foi ainda maior, chegando a 0,39 pontos extras por ano, e alcançando 0,42 pontos para aqueles que tomavam doses mais altas.
Riscos adicionais associados ao uso de antidepressivos
Além da aceleração no declínio cognitivo, o estudo publicado no BMC Medicine apontou que pacientes que tomavam antidepressivos apresentavam:
- 7% mais risco de morte;
- 18% maior probabilidade de sofrer fraturas;
- 35% mais chances de desenvolver demência grave ao usar doses elevadas de ISRS;
- 25% maior risco de fraturas ósseas em pacientes com doses mais altas.
Os pesquisadores ressaltam, no entanto, que esses achados não podem ser atribuídos exclusivamente aos medicamentos, pois a própria depressão pode contribuir para piores desfechos de saúde.
Curiosamente, um subgrupo de pacientes com demência frontotemporal, uma condição que afeta frequentemente pessoas mais jovens, apresentou um ritmo mais lento de progressão da doença ao tomar antidepressivos. Essa diferença sugere que os efeitos dos ISRS podem variar dependendo do tipo de demência.
Especialistas alertam para a necessidade de mais pesquisas
A professora Tara Spires-Jones, especialista em demência e presidente da Associação Britânica de Neurociência, afirmou que, apesar de os resultados do estudo serem “sólidos”, eles apresentam limitações. Segundo ela, é possível que os pacientes que necessitavam de antidepressivos tivessem uma versão mais agressiva da demência ou que a própria depressão tenha acelerado o declínio cognitivo.
Richard Oakley, da Alzheimer’s Society, reforçou a necessidade de mais estudos antes de se tirar conclusões definitivas sobre os efeitos dos antidepressivos na progressão da demência.