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'Round 6' lança 2ª temporada com ecos de tentativa de golpe na Coreia do Sul: criador e elenco comentam
Novos episódios mostram confronto entre jogadores e poderosos, assim como coreanos protestaram contra lei marcial. ‘Sinto que o diretor sentiu isso’, diz ator Lee Jung-jae ao g1. Elenco e criador de ‘Round 6’ falam sobre nova temporada e golpe na Coreia do Sul
Foram necessários mais de três anos para que “Round 6”, a série coreana que se tornou um fenômeno mundial em 2021, ganhasse sua segunda temporada.
Talvez por acaso, os novos sete episódios que estreiam nesta quinta-feira (26) têm ecos inegáveis da atual crise política na Coreia do Sul – menos de um mês desde uma tentativa fracassada de golpe.
Após declarar lei marcial no país, o presidente Yoon Suk-yeol viu centenas de milhares tomarem as ruas contra a medida e foi alvo de uma votação de impeachment no parlamento no começo de dezembro.
A forte e imediata reação popular já trouxe à tona memórias da série, celebrada por seu retrato de uma violenta luta de classes, na qual pessoas com dívidas gigantescas participam de uma série de jogos mortais com a promessa de um prêmio bilionário.
Na nova temporada, lançada toda de uma vez na Netflix, o protagonista interpretado pelo ganhador do Emmy Lee Jung-jae inicia sua batalha frontal contra os organizadores da competição após vencer a última edição.
Para o ator, a evolução da trama encontra reflete o atual cenário da Coreia – e não é por simples coincidência.
“Temos visto algumas atividades políticas muito drásticas acontecendo. Me pergunto se isso é só na Ásia ou em algum país específico. Mas, sinto que, independente de onde você vive, essa tendência pode ser vista em todo o mundo”, diz o astro de 52 anos em entrevista ao g1.
“Sinto que o diretor Hwang (Dong-hyuk, criador e roteirista da série) na verdade sentiu isso, porque na segunda temporada ele adicionou os votos a favor e contra continuar jogando depois de cada rodada.”
Lee Jung-jae em cena da segunda temporada de ‘Round 6’
No Ju-han/Netflix
‘Decisão com sabedoria’
Na nova edição dos jogos apresentada na segunda temporada, os competidores passam a poder votar a cada rodada se continuam ou não na disputa que vale bilhões de wons – sob o risco de suas próprias vidas.
“Quando você olha os desenvolvimentos sociais atuais na Coreia, como a declaração de lei marcial e o impeachment, fica claro como votar é importante. Como é uma oportunidade preciosa e importante. E como devemos tomar essa decisão com sabedoria”, afirma Hwang.
“Espero que, com a segunda temporada, consigamos pensar que tipo de caminho queremos tomar para nós mesmos. Que tipo de decisão queremos tomar. E espero que sirva como outra oportunidade para nós pensarmos sobre esses problemas.”
A ideia é reforçar a importância do voto e da própria democracia, mesmo sob as condições extremas de “Round 6”. Afinal, há uma pegadinha. Quem sair, divide o prêmio disponível naquele momento – mas a quantia aumenta com as mortes de cada concorrente.
“Apesar de, olhando de fora, parecer uma ótima oportunidade para os jogadores, ela leva a divisão e conflito. Você pode ver as pessoas mudando de ideia a cada rodada de votação”, fala Lee Byung-hun, ator veterano que interpreta o líder dos organizadores mascarados.
“Todos esses momentos mostram o fundo do poço da humanidade – assim como um pouco de esperança para a humanidade.”
A segunda temporada de ‘Round 6’ implementa um sistema de votação a cada rodada
No Ju-han/Netflix
‘Um fogo aceso’
Depois de seu lançamento em setembro de 2021, “Round 6” se tornou um fenômeno cultural. Além de se tornar a série mais assistida da Netflix na época, foi também a primeira produção em idioma estrangeiro a ser indicada como melhor drama no Emmy, a principal premiação da TV em Hollywood.
Na edição de 2022, levou seis estatuetas – entre elas, a de melhor ator em série de drama.
O sucesso foi tanto que a plataforma se apressou para aprovar as outras duas temporadas, que devem encerrar a trama da disputa mortal – além de games e de um reality show competitivo, lançado em 2023.
O bom resultado da série reflete também uma política sul-coreana de incentivo às suas produções culturais.
Se o gênero musical k-pop hoje é inevitável, com a popularidade de grupos como BTS e Blackpink, a vitória de “Parasita” no Oscar 2020 levou o audiovisual do país a um nível indiscutível.
“Round 6” se aproveita dessa onda – mas também conquista sua fama ao mostrar aos públicos de todo o planeta um espelho.
“Sinto que os temas de lutar contra aqueles no poder na série têm uma relação direta com coisas no mundo, especificamente na Coreia. Neste momento, há muitas pessoas nas ruas em protestos pacíficos”, diz a atriz Kang Ae-sim.
Novata na segunda temporada, ela interpreta uma mãe que se junta aos jogos para tentar salvar o filho de suas próprias dívidas.
“Acho que realmente há um fogo que foi aceso nos nossos corações por causa do que aconteceu, politicamente. Por causa disso também, a segunda temporada vai ter um significado mais profundo e vai tocar ainda mais o público.”
Kang Ae-sim e Yang Dong-geun em cena da segunda temporada de ‘Round 6’
No Ju-han/Netflix