Celebridade
Quem é o caçador de pedófilos que já prendeu 250 pessoas
Quando um pedófilo espera encontrar uma vítima indefesa e se depara com um brutamontes de 1,93m, 140 quilos e uma barba ruiva, é sinal de que chegou ao fim da linha: ele está diante de Alex Rosen.
Rosen é um americano que se tornou um profissional na arte de caçar criminosos que procuram manter relações impróprias com menores de idade nos Estados Unidos. Nos últimos cinco anos, ele aperfeiçoou a arte de enganar pedófilos e entregá-los nas mãos da polícia.
Às vezes, quando tentam fugir, eles também levam sopapos de Rosen, que tem 24 anos mas parece ser muito mais velho.
Morador de Houston, no estado do Texas, Rosen é o criador do Predator Poachers (“Caçadores de Predadores”), um grupo que expõe pedófilos na internet.
O jovem publica seus flagrantes no YouTube, onde seu canal tem quase 300 mil inscritos, mas o seu maior público está no X — o antigo Twitter. Lá, ele tem mais de 430 mil seguidores.
250 prisões em 46 estados
Cada investigação do Predator Poacher leva semanas, ou até meses.
Rosen e sua equipe criam perfis falsos de menores de idade e esperam que alguém morda a isca — o que, segundo Rosen, é a parte mais fácil do trabalho. Basta criar uma publicação do tipo “estou em busca de amigos” — e, em muitos casos, nem isso.
Depois de conversar com os alvos e extrair o máximo de informações, os investigadores independentes marcam encontros em locais públicos. Lá, em vez de uma criança ou adolescente, os pedófilos encontram Rosen e seu cinegrafista.
Muitos dos flagrantes acontecem em unidades da rede de supermercados Walmart — cheio de câmeras e apenas uma saída, o que dificulta a fuga do pedófilo.
O porte físico dele ajuda: com físico de pugilista, ele intimida seus alvos quando eles tentam fugir.
A conversa com o alvo é publicada na íntegra. Rosen não esconde o rosto ou o nome dos criminosos. Ele também traz os registros das conversas impressos, caso o pedófilo tenha um surto de amnésia,
O histórico é impressionante.
“Temos prisões em 46 estados e condenações em 40. Eu estimaria que temos cerca de 250 prisões e mais de 100 condenações”, contabilizou Rosen, em entrevista à Gazeta do Povo.
Começo aos 19 anos
Quando decidiu perseguir pedófilos, Alex Rosen era um estudante (e jogador de futebol americano) na Universidade do Sul do Texas.
“Comecei a expor pedófilos em 2019, quando tinha 19 anos. Comecei porque sempre quis ser policial, mas era muito jovem para ser na época”, diz Rosen.
No Texas, a idade mínima para ser policial é 21 anos.
Rosen não foi o primeiro a usar a internet para denunciar pedófilos, mas tem o mérito de ter aperfeiçoado a coleta de provas para colaborar com o trabalho da polícia — que, quase sempre, aparece no fim dos vídeos para levar o criminoso algemado.
Nas conversas com os alvos, a equipe de Rosen tenta fazer com que eles confessem outros crimes, como a posse de material de pornografia infantil.
Um dos denunciados pelo Predator Poachers foi condenado a 121 anos de prisão.
Polícia vê atuação com cautela
A relação do grupo de Rosen com as autoridades varia de estado para estado. Na maior parte dos casos, os investigadores demonstram interesse em colaborar com o Predator Poachers. Mas há casos de promotores que não consideram legítimo usar o material produzido por eles como provas de crime.
Além disso, as autoridades policiais temem que a atuação de grupos como o Predator Poachers acabe incentivando o linchamento — real ou virtual — de pessoas cuja culpa ainda não está legalmente comprovada.
No começo do mês, a polícia do condado de Bensalem, na Pensilvânia, prendeu um homem que aliciou uma garota de 11 anos no Facebook — ou melhor, um integrante da equipe de Rosen se passando por uma garota de 11 anos.
O criminoso mandou fotos explícitas e tentou convencer a “garota” a manter relações sexuais com ele. Ao mesmo tempo em que reconhece o trabalho do grupo liderado por Rosen, o comunicado da polícia local fez um alerta: “Esses confrontos na internet se tornaram violentos e até levaram um indivíduo confrontado a cometer suicídio no passado. O Departamento de Polícia de Bensalem não tolera esses tipos de confrontos e pede a qualquer um que tenha informações sobre um possível predador de crianças que ligue para a polícia antes de fazer contato, para que a segurança de todos os envolvidos possa ser mantida e a integridade processual dessas investigações possa ser preservada”, afirma o texto.
O episódio a que a nota da polícia se refere na verdade aconteceu em julho deste ano, no estado da Dakota do Sul. Depois de cair em uma armadilha montada pelo Predator Poachers, Donald Letcher, de 60 anos, confessou ter vídeos de abuso infantil de menores de idade. Quando a polícia chegou, ele entrou em sua casa e tirou a própria vida.
Rosen, entretanto, afirma que nunca foi processado pelas pessoas que expõe: “Apenas recebi notificações extrajudiciais”, afirma ele. Mas ele já chegou a ser ameaçado com um fuzil AR-15.
No ano passado, outro caçador de pedófilos — conhecido Boopac Shakur — foi morto a tiros no Michigan. Entretanto, a polícia não tenha convicção de que o crime esteja ligado à atuação dele contra o abuso infantil.
Ao contrário de Rosen, Shakur costumava atacar fisicamente os seus alvos.
No Brasil, flagrantes preparados não valem como prova
Nos Estados Unidos, flagrantes obtidos por meio de estratagemas (como uma pessoa fingindo ser menor de idade) são legítimos.
No Brasil, ninguém pode ser punido por conversar com um adulto se passando por menor de idade. Até mesmo a polícia evita montar armadilhas como a de Alex Rosen.
“Essas provas não seriam válidas no tribunal”, explica Olavo Mendonça, tenente-coronel da Polícia Militar do Distrito Federal e especialista em segurança pública.
Ele diz que os policiais podem colher indícios preliminares em ações de inteligência (inclusive se passando por outras pessoas), mas que esse material não serve como prova.
“Existem possibilidades de colher essas informações por meio de inteligência, às vezes usando subterfúgios. Mas a partir do momento que você confirmou a suspeita, você teria que fazer diligências dentro do aparato legal”, explica Mendonça. Essas diligências incluem mandados de busca e apreensão de computadores ou a quebra do sigilo telefônico.
O artigo 17 do Código Penal brasileiro estabelece que “não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”
A súmula 145 do Supremo Tribunal Federal, aprovada em 1963, reforçou esse entendimento e definiu que “não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.
Ou seja: se alguém comprar açúcar acreditando que adquiriu cocaína, não pode ser preso por isso. A mesma lógica se aplica a quem tem intenções ilícitas e conversa com um adulto acreditando que o interlocutor é uma criança.
A exposição da imagem de suspeitos ainda não condenados também pode ter consequências legais. A lei de abuso de autoridade sancionada em 2019 veta a exposição da imagem de presos como se fossem culpados.
A norma prevê pena de até dois anos de prisão para a autoridade que “antecipar (..) por meio de comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação”.
“O que a gente tem que fazer aqui no Brasil é uma mudança no arcabouço constitucional permitindo que as provas colhidas por pessoas civis sejam usadas — desde que elas realmente comprovem o delito e não ofendam os princípios constitucionais da pessoa”, defende Mendonça.