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Berço da esfirra, 21 mil brasileiros e religião no poder: conheça o Líbano, onde Israel e Hezbollah se enfrentam

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Berço da esfirra, 21 mil brasileiros e religião no poder: conheça o Líbano, onde Israel e Hezbollah se enfrentam




Influenciado por várias civilizações, país se destaca como centro cultural e histórico. Em meio a um cenário de conflitos, Líbano vive tensões políticas e sociais que moldam identidade contemporânea. Entenda o conflito no Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra geral
Os olhos e as preocupações do mundo se voltaram para o Líbano depois que o país foi colocado no centro da escalada do conflito no Oriente Médio. Nos últimos dias, o território libanês vem sendo bombardeado por Israel, que trava uma batalha contra o grupo extremista Hezbollah.
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Com uma história milenar, o território onde hoje existe o Líbano é mencionado no Antigo Testamento e em textos do poeta grego Homero, que viveu cerca de 900 anos antes de Cristo.
Ao longo do tempo, o Líbano foi ocupado por várias civilizações, incluindo os fenícios, conhecidos pelas habilidades comerciais e marítimas, e os romanos, que deixaram uma rica herança arquitetônica que é visitada até os dias de hoje.
Na Idade Média, a região foi tomada pelos árabes e, posteriormente, fez parte do Império Otomano. Após a Primeira Guerra Mundial e a queda otomana, o Líbano passou a ser controlado pela França, o que influenciou a formação moderna do país. A independência veio somente na década de 1940.
Nas últimas décadas, o Líbano enfrentou uma série de conflitos importantes, incluindo uma guerra civil entre 1975 e 1990 e invasões de Israel em 1978 e 1982.
Esse caminho garantiu ao Líbano um passado histórico marcado por grande diversidade cultural e religiosa, que se soma às belezas naturais do país. A região também é o berço de pratos conhecidos, como o quibe e a esfirra.
A imigração libanesa no último século também fez com que o país criasse um forte vínculo cultural com o Brasil, com influência em vários setores da sociedade — como a política, medicina e gastronomia.
Atualmente, o Líbano tem 5,4 milhões de habitantes e um IDH de 0,723 — o que o coloca na 109ª posição no ranking da ONU. Segundo o Itamaraty, 21 mil brasileiros vivem no país.
Nesta reportagem você vai ver:
Turismo e cultura do Líbano
Estrutura política e economia
O Hezbollah
Conflitos no passado
Israel x Hezbollah agora
Diferenças com Gaza
Líbano e o Brasil
Infográfico mostra detalhes do Líbano
Sofia Alves/g1
1. Turismo e cultura
A influência de diferentes civilizações na formação do Líbano fez com que o país construísse uma grande diversidade cultural. Edifícios históricos, cidades antigas e a capital Beirute estão entre os principais pontos turísticos.
Um dos destaques são as ruínas de Baalbek, no leste do Líbano. Pelo menos 19 civilizações passaram pela região, onde se sobressaiu a arquitetura romana.
Dentro de Baalbek, um dos pontos mais impressionantes é o Templo de Júpiter, que tem cerca de 2 mil anos. A construção é reconhecida como um dos maiores templos do mundo romano.
Templo de Júpiter, em Baalbek, no Líbano
Véronique Dauge/UNESCO
Outros locais de importância turística incluem:
Batroun, famosa pelas construções fenícias;
Zahlé, conhecida pelas vinícolas;
Biblos, que é uma das cidades mais antigas do mundo;
Harissa, onde fica o santuário de Nossa Senhora de Harissa;
Vale do Kadisha, região sagrada para os cristãos no norte do país;
Mzaar Kfardebian, uma estação de esqui com vista para Beirute e o Mar Mediterrâneo.
Já Beirute é conhecida pelo clima cosmopolita e pela vida noturna agitada. Guga Chacra, comentarista da GloboNews e colunista do jornal O Globo, explica que a vida noturna da capital é muito intensa.
“É algo que eles têm muito orgulho”, diz.
Mesmo diante de períodos turbulentos, a capital libanesa conseguiu manter uma vida ativa em conflitos anteriores. Guga faz uma comparação com algumas cidades brasileiras.
“Em alguns lugares no Brasil, você tem ondas de violência. Mas, em outras partes desse mesmo lugar, a vida segue normal. Como os bombardeios de Israel não atingiram regiões como bairros cristãos, as pessoas seguem a vida normal e vão para academia, mercado e bares”, diz.
Em linhas gerais, segundo Guga, o Líbano tem um turismo de diáspora. Ou seja, o país recebe muitos descendentes de libaneses que vão ao país para conhecer suas origens.
Além disso, a culinária libanesa tem pratos típicos que são muito conhecidos no Brasil, como o quibe, o tabule e a esfirra.
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Quibes feitos por empório em Goiânia, Goiás
Rogério Porto/Divulgação
2. Estrutura política e economia
O Líbano possui um sistema político conhecido como “confessionalismo”. Esse modelo distribui o poder entre grupos religiosos presentes no país.
O confessionalismo existe desde a década de 1940 e foi criado para garantir uma paridade entre muçulmanos sunitas e xiitas, além de cristãos. Foi uma forma encontrada de manter a paz entre os grupos diante da diversidade étnica e religiosa do Líbano.
Neste modelo, os cargos são distribuídos da seguinte maneira:
O presidente deve ser um cristão maronita.
O primeiro-ministro deve ser um muçulmano sunita.
O presidente do Parlamento deve ser um muçulmano xiita.
O Parlamento também tem as cadeiras divididas por grupos religiosos. O modelo, no entanto, já foi alvo de protestos e é responsabilizado por casos de corrupção e violência.
Desde 2022, o Líbano está sem um presidente e vive um impasse. Cabe ao Parlamento eleger um novo mandatário. No entanto, desde então, a classe política não conseguiu chegar a um acordo.
A crise política também está acompanhada de uma crise econômica. O Líbano ainda sofre os efeitos de um colapso financeiro ocorrido em 2019, que provocou o empobrecimento da população e gerou inflação. A situação se agravou com a pandemia e a explosão do porto de Beirute, em 2020.
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3. O Hezbollah
Militantes do Hezbollah durante parada militar para homenagear mortos em confrontos com forças de Israel
Hussein Malla/AP
O Hezbollah é um grupo muçulmano xiita que surgiu na década de 1980 no contexto da Guerra Civil Libanesa. A palavra “Hezbollah” significa “Partido de Alá” ou “Partido de Deus”.
Quando foi fundado, o Hezbollah passou a se opor fortemente à ocupação israelense no sul do Líbano, que teve início no final da década de 1970. Desde então, o grupo mantém o apoio do Irã.
Israel só se retirou plenamente do Líbano no ano 2000, em uma vitória do Hezbollah. O grupo também se tornou um partido político legítimo, apesar de manter um braço armado até os dias de hoje.
Embora o grupo não tenha uma presença significativa nas áreas sunitas, cristãs e drusas, ele atua como um “Estado paralelo” nas regiões xiitas.
Como partido político, o Hezbollah aceita a estrutura institucional do Estado do Líbano e possui membros no Parlamento, mantendo, inclusive, aliados cristãos por questões políticas e eleitorais.
“Eles usam esse poder para tentar pressionar por ações mais favoráveis ao grupo”, explica o colunista Guga Chacra.
O Hezbollah é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, Israel e União Europeia.
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4. Conflitos no passado
O Líbano tem uma história marcada por conflitos que moldaram a sociedade contemporânea do país. Nos últimos 50 anos, o país enfrentou uma série de crises. Confira abaixo alguns pontos:
1975: O Líbano entra em uma guerra civil em um contexto de disputas políticas e religiosas, além da instalação de uma resistência palestina armada do país. Um dos estopins para o conflito ficou conhecido como “Massacre de Ayn-al-Rummanah”, quando 27 passageiros de um ônibus — a maioria eram palestinos — foram assassinados por uma milícia cristã.
1978: Israel invade o sul do Líbano na chamada “Operação Litani”. A ação foi uma resposta a um ataque promovido pela Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), que sequestrou um ônibus e matou mais de 30 civis israelenses.
1982: Israel realiza uma invasão em larga escala contra o Líbano. A operação se deu após um grupo palestino tentar matar o embaixador israelense no Reino Unido.
1982: Bashir Gemayel, presidente eleito do Líbano e pró-Israel, é assassinado em um atentado terrorista promovido por um grupo cristão pró-Síria. O caso foi seguido do Massacre de Sabra e Shatila, no qual centenas de refugiados palestinos foram mortos por milícias cristãs maronitas, com o apoio indireto de Israel.
1983: Atentados suicidas atingem bases dos EUA e da França em Beirute. A responsabilidade pelos ataques foi atribuída ao recém-fundado Hezbollah.
1985: Israel se retira da maior parte do Líbano, mas mantém uma zona de segurança na região sul com o apoio da milícia local, o Exército do Sul do Líbano — uma milícia majoritariamente cristã.
1989: Membros do Parlamento do Líbano se reúnem em Taife, na Arábia Saudita, e costuram a Carta Nacional de Reconciliação, reformando parte da política do país.
1990: A Guerra Civil Libanesa é oficialmente encerrada após a reconquista de Beirute Ocidental e a derrota de facções cristãs, com o apoio das forças armadas sírias.
2000: Israel retira as forças do sul do Líbano após 22 anos de ocupação. A medida foi vista como uma derrota israelense para o Hezbollah, que havia conquistado poder e influência na região.
2006: Israel e Hezbollah entram em guerra após dois soldados israelenses serem sequestrados pelo grupo extremista. O conflito durou 34 dias e acabou após um acordo de cessar-fogo mediado pela ONU.
2020: O Líbano enfrenta uma onda de protestos motivada pelas crises política, econômica e social.
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5. Israel x Hezbollah agora
Fumaça emerge no sul do Líbano após ataques israelenses, vista de Tiro, no Líbano, nesta segunda-feira (23).
Aziz Taher/Reuters
O Hezbollah tem bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade aos terroristas do Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza.
Nos últimos meses, foi observado um aumento de tensões envolvendo Israel e Hezbollah. Um comandante do grupo foi morto em um ataque israelense no Líbano, em julho. No mês seguinte, o grupo preparou uma resposta em larga escala contra Israel, que acabou sendo repelida.
Nas últimas semanas, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah. O gatilho para uma virada no conflito veio após os seguintes pontos:
Nos dias 17 e 18 de setembro, centenas de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
A imprensa norte-americana afirmou que os Estados Unidos foram avisados por Israel de que uma operação do tipo seria realizada. Entretanto, o governo israelense não assumiu a autoria.
Após as explosões, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área por causa dos bombardeios do Hezbollah.
Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.
Em 23 de setembro, Israel bombardeou diversas áreas do Líbano. Cerca de 500 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. O dia foi o mais sangrento desde a guerra de 2006.
As Forças de Defesa de Israel anunciaram que militares estão se preparando para uma possível operação terrestre no Líbano. Bombardeios aéreos executados pelos israelenses podem ser indícios de uma preparação de terreno para uma invasão.
Dois adolescentes brasileiros no Líbano morreram nos bombardeios dos últimos dias: um rapaz de 15 anos e uma jovem de 16 anos.
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6. Diferenças com Gaza
Tanques do Exército de Israel durante operação terrestre na Faixa de Gaza
Israel Defense Forces/Handout via REUTERS
Em discurso na Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que o mundo não pode deixar que o Líbano “vire outra Gaza”.
Apesar do envolvimento no conflito recente com Israel, Líbano e a Faixa de Gaza possuem grandes diferenças. O primeiro ponto a ser analisado, segundo Guga Chacra, é que o Líbano é um Estado consolidado.
“O Líbano tem essas autoridades de um Estado nacional formado. Você tem um Exército que é armado e que até mantém uma boa relação com os Estados Unidos. Tem um Parlamento e instituições”, explica.
Já Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, ressalta diferenças geográficas entre o Líbano e a Faixa de Gaza. Essa característica pode impactar o andamento de um conflito militar.
“No Líbano qualquer tipo de operação seria muito mais difícil do que em Gaza. Além disso, o Líbano é muito maior. Gaza é só uma faixa costeira que tem fronteiras com Israel e Egito, o que a torna mais fácil de ser controlada”, diz.
Fancelli também aponta algumas diferenças nas capacidades do Hezbollah e do Hamas diante dos territórios do Líbano e de Gaza. Veja a seguir:
O posicionamento geográfico da Faixa de Gaza torna o Hamas mais isolado, mesmo com a rede de túneis. Enquanto isso, o Hezbollah tem outras opções para se reabastecer, já que o Líbano faz fronteira com a Síria.
Em Gaza, por causa da densidade, Israel tinha mais facilidade em identificar estruturas do Hamas, apesar do custo humanitário. Enquanto isso, o Líbano conta com muitas zonas rurais e urbanas, o que torna o terreno mais difícil para operações terrestres.
A região sul do Líbano, controlada pelo Hezbollah, é uma região montanhosa, o que também dificulta atividades militares em uma possível invasão. Esse não é o caso da Faixa de Gaza.
“De maneira geral, o desafio para Israel é maior por não controlar as fronteiras, por ter um terreno mais difícil e pelas pessoas estarem mais dispersas. Então, fica mais complicado, inclusive, para evacuar civis”, explica Fancelli.
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7. A relação com o Brasil
Cristo Redentor com a bandeira do Líbano, no Rio de Janeiro
AP Photo/Leo Correa
Líbano e Brasil possuem uma relação profunda histórica, principalmente motivada pela imigração libanesa. Imigrantes vieram para o país entre o fim do século 19 e início do século 20, além das décadas de 1970 e 1980.
Guga Chacra ressalta que, no início do século passado, muitos libaneses deixaram o país rumo à América em busca de melhores condições de vida. À época, o Império Otomano estava em decadência, e a região passava por crises econômicas.
“Os libaneses têm um carinho muito grande pelo Brasil. Eu não conheço um país que goste tanto do Brasil quanto o Líbano. Eles adoram essa conexão e respeitam”, diz Guga.
A presença libanesa no Brasil é vista em várias áreas, inclusive na medicina.
Na década de 1920, um grupo de imigrantes de origem sírio-libanesa se reuniu para criar uma entidade com o objetivo de retribuir a acolhida brasileira. Com isso, surgiu a Sociedade Beneficente de Senhoras, que deu origem ao Hospital Sírio-Libanês.
Na política, figuras como Fernando Haddad, Michel Temer e Paulo Maluf são filhos de imigrantes libaneses. Além disso, nomes como o do cineasta Arnaldo Jabor e o do escritor Milton Hatoum também se destacam.
Por fim, a culinária do país ganhou destaque no Brasil e é altamente apreciada. Os dois países também mantém boas relações diplomáticas e de cooperação internacional.
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