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O que está por trás de megaofensiva de Israel na Cisjordânia

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O que está por trás de megaofensiva de Israel na Cisjordânia




Escritório da ONU afirma que a recente operação militar israelense em quatro cidades palestinas está sendo conduzida “de uma forma que viola o direito internacional”. Soldados israelenses durante a ofensiva em Tulkarem, norte da Cisjordânia.
Getty Images via BBC
Pelo menos quatro cidades palestinas são alvo de uma mega ofensiva de Israel na Cisjordânia ocupada.
Nove palestinos foram mortos, segundo autoridades de saúde palestinas e militares israelenses.
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) afirmam que os mortos eram “terroristas armados”.
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No entanto, o número real de vítimas pode ser maior: as autoridades palestinas haviam confirmado anteriormente pelo menos 11 mortos.
A operação de Israel acontece simultaneamente em pelo menos quatro cidades: Jenin, Tulkarem, Nablus e Tubas, que cobrem grande parte do norte da Cisjordânia.
Acredita-se que esta seja a primeira vez que várias cidades palestinas são alvo de incursões militares simultâneas de Israel desde a Segunda Intifada, a revolta palestina que ocorreu entre 2000 e 2005.
Para Paul Adams, jornalista de Diplomacia da BBC News, a ofensiva atual é o mais recente sinal de que Israel teme que a área esteja fora de controle.
As IDF já enfrentavam, antes mesmo da guerra em Gaza eclodir em outubro passado, uma nova geração de grupos armados na Cisjordânia, especialmente em Jenin.
Mas agora uma nova frente de batalha se abriu em vários campos de refugiados na parte norte da Cisjordânia, incluindo aqueles atacados nesta quarta-feira (28/8).
“É como um câncer. Está se espalhando”, afirmou o general Israel Ziv, ex-chefe da divisão de operações da IDF, no início deste mês a Adams.
“Não há dúvida de que a intensidade em Samaria (termo israelense para a parte norte da Cisjordânia) é agora igual ou até maior do que a intensidade da guerra em Gaza.”
Segundo Adams, Israel vê a emergência de novos grupos armados como parte de um esforço do Irã para ocupar suas forças em várias frentes e desviar sua atenção.
Teerã, dizem as autoridades israelenses, é responsável pelo financiamento e, em alguns casos, pelo armamento dos militantes (feito por meio de rotas de contrabando por meio da Síria e da Jordânia).
“É um esforço 100% iraniano para construir um representante na Samaria”, disse o general Ziv.
Até agora, os militares israelenses mantinham em parte o controle da situação, avalia o jornalista de Diplomacia da BBC.
Mas as táticas mais agressivas das IDF – incluindo ataques aéreos, ataques altamente destrutivos a campos de refugiados e um número crescente de mortes de civis – ameaçam transformar os grupos armados em heróis locais, com cada vez mais jovens palestinos dispostos a se mobilizar.
Com as últimas medidas do governo israelense para criar novos assentamentos judeus em toda a Cisjordânia e as ações cada vez mais violentas de alguns colonos, o resultado é uma atmosfera cada vez mais inflamada.
“Definitivamente, não estamos controlando a escalada por lá”, disse o general Ziv.
Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, disse que as IDF estão “operando com força total desde ontem [terça-feira] à noite nos campos de refugiados de Jenin e Tulkarm para desmantelar as infraestruturas terroristas iraniano-islâmicas ali estabelecidas”.
Ele acusou o Irã, que apoia os grupos armados Hamas e a Jihad Islâmica Palestina, de tentar abrir o que chamou de uma nova frente contra Israel na Cisjordânia.
“Devemos enfrentar a ameaça da mesma forma que enfrentamos a infraestrutura terrorista em Gaza, incluindo a evacuação temporária dos residentes palestinos e todas as medidas necessárias”, acrescentou.
Por sua vez, a presidência da Autoridade Nacional Palestina indicou que esta última escalada de violência na Cisjordânia, juntamente com a atual guerra em Gaza, “conduzirá a resultados terríveis e perigosos pelos quais todos pagarão o preço”.
Nabil Abu Rudeineh, porta-voz da presidência, afirmou que a ofensiva israelense na Cisjordânia foi “uma continuação da guerra global contra o nosso povo, a nossa terra e os nossos lugares sagrados”, conforme citado pela agência palestina Wafa.
Rudeineh acrescentou que as autoridades israelenses, que ocupam a Cisjordânia, são responsáveis ​​pela escalada, “tal como os Estados Unidos”, uma vez que estes últimos “fornecem proteção e apoio a esta ocupação para continuar a sua guerra contra o nosso povo palestino”.
O porta-voz apelou aos Estados Unidos para intervirem para travar a escalada, que “representa uma ameaça à estabilidade da região e do mundo inteiro”.
Já o ativista palestino pelos direitos civis Mustafa Barghouti afirmou à BBC que os eventos desta quarta-feira na Cisjordânia sugerem que “o Exército israelense está tentando levar a guerra de Gaza para a Cisjordânia”.
“O que você vê aqui é uma guerra unilateral por um enorme Exército israelense com força aérea atacando basicamente a população civil na Cisjordânia”, diz Barghouti, acusando Israel de violar a lei internacional.
Ele também alega que o Exército israelense emitiu ordens de evacuação para pessoas no campo de refugiados de Nur Shams – algo relatado pela agência de notícias palestina Wafa, mas não confirmado por Israel.
“É exatamente como eles fizeram em Gaza”, diz Barghouti sobre Israel, “onde eles forçaram as pessoas a serem deslocadas e a deixar suas casas e se tornarem refugiadas novamente.”
Hospitais e campos de refugiados
O Ministério da Saúde Palestino na Cisjordânia pediu à comunidade internacional que ajude a proteger os hospitais em Jenin, Tulkarm e Tubas em meio à ofensiva.
Em uma declaração na manhã desta quarta, o ministério acusou os militares israelenses de bloquearem o acesso de ambulâncias, o que “constitui uma violação flagrante” do direito humanitário.
Segundo as autoridades, o Exército israelense fechou estradas que levam ao Hospital Ibn Sina e cercou o Hospital Khalil Suleiman e a sede das organizações não governamentais Crescente Vermelho e Amigos dos Pacientes, em Jenin.
A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PCRS) também afirmou mais cedo que as forças israelenses “invadiram” seu posto médico no campo de refugiados de Far’a, perto de Tubas.
Posteriormente, a organização humanitária confirmou que as tropas haviam se retirado do local, mas alegou que o diretor do centro foi agredido e tiros foram disparados dentro do prédio.
Yolande Knell, correspondente da BBC no Oriente Médio, também reportou que forças israelenses entraram em um hospital de Jenin e fecharam outros hospitais em Tulkarem.
As incursões militares israelenses em Nablus se centraram, ao que parece, nos campos de refugiados ali, diz ela.
No campo de refugiados de al-Far’a, perto de Tubas, médicos dizem que ambulâncias estão tendo dificuldades para chegar aos feridos após um ataque de drones israelenses.
As IDF, os serviços de segurança israelenses e a polícia divulgaram nesta quarta-feira uma declaração conjunta em que confirmam que três “terroristas armados” em Jenin que “representavam uma ameaça às forças de segurança” foram mortos em um ataque aéreo.
A nota diz ainda que outros dois homens armados foram mortos em Jenin e Tulkarem, e que os soldados israelenses “desmantelaram explosivos que foram colocados sob estradas na área e que deveriam ser detonados em ataques contra as forças de segurança”.
O comunicado acrescenta que outros quatro homens foram mortos no campo de Far’a em ataques aéreos.
‘Violação do direito internacional’
O Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) condenou a “resposta cada vez mais militar” das forças de segurança israelenses na Cisjordânia ocupada.
O ACNUDH afirma que a recente operação militar israelense na Cisjordânia está sendo conduzida “de uma forma que viola o direito internacional e corre o risco de agravar ainda mais uma situação já explosiva”.
“A violência entre as forças de segurança israelenses e os palestinos armados na Cisjordânia não constitui um conflito armado ao abrigo do direito humanitário internacional”, afirma o comunicado, acrescentando que “o uso da força na Cisjordânia deve cumprir os padrões de direitos humanos”.

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