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SP teve 101 denúncias de tráfico humano no 1º semestre, aponta relatório do Ministério da Justiça; em todo o ano de 2023, foram 180
Relatório considera como tráfico humano pessoas traficadas para remoção de órgãos, trabalho escravo, servidão, adoção ilegal e exploração sexual e, segundo a pasta, existe subnotificação de dados. Vhera Xunu
Reprodução/ TV Globo
No primeiro semestre deste ano, foram feitas 101 denúncias de tráfico humano no estado de São Paulo, segundo informações apuradas pela TV Globo com dados do Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas, do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em 2023, foram 180 durante todo o ano, e, em 2022, 80.
Ainda segundo os dados, São Paulo também aparece como um dos estados com mais denúncias de pessoas estrangeiras trabalhando em situações análogas à escravidão no cultivo da mandioca. A maior parte das vítimas é do Paraguai.
Entre 2021 e 2023, foram resgatados 355 trabalhadores não nacionais, sendo paraguaia a principal nacionalidade envolvida em contextos de exploração laboral, seguida pela venezuelana e, em terceiro lugar, a boliviana.
Vítimas resgatadas na Grande SP
Neste mês, indígenas trazidos do Norte do Brasil foram regatados pela Polícia Federal em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, e na Freguesia do Ó, na Zona Norte da capital.
Segundo Leonardo Henrique Rodrigues, delegado responsável pela investigação, as vítimas são mantidas no local com o argumento de que devem dinheiro para os criminosos.
“Vítimas identificadas e ouvidas afirmam que se prostituem e recebem o valor e uma porcentagem é voltado para o pagamento dessas dívidas, que vão se multiplicando por conta dos juros”, afirma.
Vhera Xunu, que mora em uma aldeia Guarani Mbya no Rio Grande do Sul, diz que as vítimas da região são atraídas com falsas promessas de emprego.
“Tem um grupo que chama e oferece vários empregos. Só que esse trabalho não existe, e os homens são levados para venda de drogas, e as mulheres, para prostituição”, afirma.
De acordo com o relatório, o tráfico de indígenas é subnotificado. Os Guarani Mbya, povo que vive em São Paulo e em estados do Sul do país, são alvos deste crime, mas as denúncias nem sempre chagam até as autoridades.
Vhera reforça que vítimas não denunciam por medo. “Eles sabem tudo das vítimas, tiram da aldeia e oferecem algumas coisas. Eles sabem a família e aí ameaçam a vítima. A vítima não fala por medo de ser assassinada.”
Denúncias pelo país
O relatório considera como tráfico de pessoas denúncias de:
pessoas traficadas para remoção de órgãos;
trabalho escravo;
servidão;
adoção ilegal;
exploração sexual.
Perfil das vítimas de acordo com o meio utilizado para fazer a denúncia:
Defensoria Pública da União, com 86 vítimas brasileiras e 23 vítimas estrangeiros;
Ministério do Trabalho e Emprego, com 8.415 vítimas de trabalho escravo, sendo 84% deles homens;
Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), com 1.473 vítimas, sendo 36% (523) mulheres e 64% homens (950);
Disque 100 e Disque 180, do Ministério dos Direitos Humanos, com 573 vítimas, sendo 59% mulheres (316), 17% homens (89). Eles também compilaram 132 crianças, sendo 99 meninas e 33 meninos.
Ainda segundo o Ministério da Justiça, responsável pela elaboração do relatório, existe subnotificação de dados e há a possibilidade de a mesma denúncia ter sido feita em órgãos diferentes. Por isso, não é recomendado somar as denúncias.
Trabalho escravo
Alojamentos de vítimas de trabalho escravo em Guariba, SP.
MPT/Divulgação
O Ministério do Trabalho é o único que compila denúncias apenas de trabalho escravo, os outros órgãos recebem denúncias de todo tipo de tráfico humano. Ao todo, foram 8.415 vítimas resgatadas, sendo 84% homens, 13% mulheres e 2% meninos de até 18 anos. Segundo o material, 80% das vítimas resgatadas são negras.
Adoção ilegal
O relatório também destacou dados de pessoas traficadas para adoção ilegal como um crime em ascensão. Segundo dados da Polícia Federal, entre 2021 e 2023, foram abertos oito inquéritos policiais para investigar acusados de terem praticado o crime.