Política
‘Chegou o nosso momento’, brinca Kamala carioca sobre xará dos Estados Unidos
Kamala Marina Costa diz que foi vítima de bullying por muitos anos por ter um nome diferente e comemora momento de popularidade que vive agora: “Dou bastante risada”. Kamala Harris e Kamala Marina Costa
US Coast Guard Photo/Arquivo Pessoal
O nome da vice-presidente dos Estados Unidos e pré-candidata Kamala Harris ganhou espaço no noticiário mundial após a desistência do Joe Biden na disputa pela presidência, contra Donald Trump. O nome da política americana de 59 anos vem da origem da família materna, que veio da Índia: Kamala significa “flor de lótus”, um símbolo significativo na cultura indiana.
No Brasil, no entanto, o nome Kamala não é tão comum. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem apenas 26 Kamalas no Brasil, com dados até o Censo de 2010. O instituto informou que não possui dados atualizado do levantamento de 2022.
Uma das Kamalas brasileiras tem 36 anos e mora em Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, e comemorou a possibilidade da xará norte-americana virar presidente dos Estados Unidos.
“Depois de 36 anos, chegou o nosso momento”, brincou Kamala Marina Costa.
Kamala Marina Costa, 36 anos, moradora do Rio de Janeiro
Divulgação
“Meus amigos estão me chamando e comentando essa repercussão em torno do nome da Kamala Harris. Eu a vejo como uma mulher de expressão, negra e de origem indiana e jamaicana, que pode estar na frente de um poder de supremacia como os Estados Unidos”, completa.
Ao contrário da Kamala gringa, que tem o nome pronunciado como “Kâmala”, a carioca prefere ser chamada de “Kamála”. O nome e a pronúncia foram escolha da mãe, Elizabete Costa, 75 anos, que tirou a inspiração de livros.
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“Minha mãe sempre gostou de nomes diferentes, tanto que minha irmã se chama Katucha. Os dois saíram de livros que ela gostou muito. No meu caso, a inspiração veio da obra “Sidarta”, de Hernann Hesse. Na adolescência, minha mãe se apaixonou pela personagem do livro e colocou o meu nome de Kamala”, conta.
Mas ter um nome tão incomum no Brasil não foi tão fácil para Kamala quando criança. Ela diz que sofreu muito bullying, principalmente pela sonoridade que o nome traz.
“Eu até brinquei em uma rede social que eu tenho 36 anos de meme na minha vida e que a Kamala Harris pode me consultar. É ‘Com Mala’, ‘Com Bolsa’, ‘Com Pochete’, ‘Com a Bala’. Eu sou da geração em que o bullying era normalizado. Hoje eu dou bastante risada”, revela.
Kamala Marina Costa é uma das 26 Kamalas do Brasil, segundo dados do IBGE
Divulgação
Apesar das piadas, Kamala diz que sempre gostou do nome que recebeu por causa da quase exclusividade. “Eu nunca encontrei outra Kamala no Brasil e sempre brinco que preciso ter um duplo cuidado, pois qualquer erro que eu cometer, todo mundo vai saber que sou eu. Quando surge o nome Kamala, todos sabem que sou eu. Então, essa questão de ser única sempre foi bem presente na minha vida e na da minha irmã”.
Caso o nome venha a se popularizar com a eventual vitória de Kamala Harris, a Kamala brasileira disse que seria um motivo de alegria conhecer mais pessoas com o seu nome.
“Eu vou ficar feliz e será engraçado, pois é um nome que apesar de diferente, as pessoas sempre elogiam. Vai ser muito legal poder ver isso acontecer”, brinca.
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A redenção de um nome
A mãe de Kamala e Katucha, Elizabete Costa, também conversou com o g1 e falou sobre o orgulho que tem do nome das filhas e do significado para ela.
“Eu sempre achei importante ter um nome que tem história. O Sidarta foi o meu livro de cabeceira e eu gostava muito desse nome. A minha filha anterior, a Katucha, era o livro do Tolstói. Eu passei pelo final do movimento hippie e lia muito”, relembra.
Kamala ao lado da mãe, Elizabete, e da irmã, Katiucha
Arquivo Pessoal
Ela conta que a escolha dos nomes sempre foi motivo de brincadeira por parte de conhecidos, mas que agora sente que os comentários estão diferentes.
“Ficavam brincando comigo sobre ‘vai com a mala ou não vai com a mala?’. E agora virou notícia. Que bom, eu fico muito feliz com isso. É uma bela história”, resume.
Livro que inspirou Elizabete a escolher o nome de Kamala
Reprodução
Tanto Elisabete quanto Kamala dizem que conhecem bem a pré-candidata democrata. Questionadas se votariam em Kamala caso fossem cidadãs americanas, as duas disseram que sim e o nome não seria o ponto principal da escolha.
“A outra opção é o Trump, então sem dúvida o meu voto seria nela. Enquanto mulher, enquanto preta, eu acho uma visibilidade grande que a gente vai ter. É o caminho, é o começo de ter mulheres negras no poder. Um passo que a gente não consegue mensurar”, diz Kamala.
“Estou torcendo para que ela consiga agora, porque vai vir chumbo grosso. Espero que ela continue do jeito que está indo”, compla Elizabete.