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Política

Plano golpista: o que as investigações da PF revelam sobre a atuação de Bolsonaro, militares e ex-ministros

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Plano golpista: o que as investigações da PF revelam sobre a atuação de Bolsonaro, militares e ex-ministros




Ex-presidente discutiu com militares documento para mudar o resultado das eleições. PF aponta ainda apoio aos atos golpistas e envolvimento do PL, partido de Bolsonaro. Decisão de Moraes tem 135 páginas e cita elementos de provas encontrados pela PF
As investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de um golpe de estado para manter Jair Bolsonaro no poder revelaram que o ex-presidente pediu ajustes na minuta do golpe (como ficou conhecido o documento que tinha como objetivo mudar o resultado da eleição) e discutiu o seu teor com militares e membros do alto escalão do seu governo. Também mostraram a atuação de ex-assessores para articular e financiar atos golpistas e o envolvimento do PL, partido de Bolsonaro, no plano.
A operação realizada nesta quinta-feira (8) teve como alvo o próprio Bolsonaro, ex-ministros e ex-assessores dele e militares de alta patente. Além de inquéritos em andamento, foram levadas em conta a delação de ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid e mensagens encontradas no celular dele.
Confira o que as investigações da PF revelaram:
Bolsonaro discutiu o teor da minuta do golpe e pediu ajustes. A versão inicial previa a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mas Bolsonaro pediu que os nomes de Pacheco e Gilmar fossem retirados do documento. Ele também quis que fosse mantido o trecho que previa a realização de novas eleições.
Após as mudanças, Bolsonaro convocou generais e comandantes das Forças Armadas para apresentar a minuta e pressioná-los a aderir ao golpe.
O governo Bolsonaro mantinha uma estrutura de inteligência paralela que monitorava a agenda de autoridades e era comandada pelo ex-assessor especial de Bolsonaro Marcelo Câmara.
Uma das agendas acompanhadas em tempo integral era a de Alexandre de Moraes para, caso fosse dado o golpe militar, ele pudesse ser preso. Segundo as investigações, Marcelo Câmara já tinha o “itinerário exato de deslocamento do ministro” nas semanas finais de dezembro de 2022.
Ex-presidente Jair Bolsonaro em outubro de 2023
Reuters/Ueslei Marcelino
Militares da ativa pressionaram colegas contrários ao golpe para tentar fazê-los aderir ao movimento. Em uma das conversas captadas pela PF, o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, chegou a chamar o comandante do Exército, general Freire Gomes, de “cagão”.
Bolsonaro convocou uma reunião em julho de 2022 com a alta cúpula do governo, incluindo o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para discutir estratégias que assegurassem a sua vitória nas eleições. Na ocasião, o general Augusto Heleno, que chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), defendeu que, se tivesse que “virar a mesa”, que fosse “antes das eleições”. A PF encontrou um vídeo da reunião em um computador apreendido na casa de Mauro Cid.
Em dezembro de 2022, o então chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, general Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e disse que colocaria as tropas especiais nas ruas se ele assinasse a minuta do golpe.
O grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado. Entenda aqui como, segundo a PF, eles estavam articulados.

A organização tinha cinco eixos de atuação: 1 – ataques virtuais a opositores; 2 – ataques às instituições (STF e TSE) e ao sistema eleitoral; 3 – tentativa de golpe de estado; 4 – ataques às vacinas contra a Covid-19; e 5 – uso da estrutura do estado para obter vantagens, como desvios de bens, a exemplo do caso das joias.
Pessoas muito próximas a Bolsonaro, como Mauro Cid, ajudaram a articular e financiar os atos golpistas que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. Ele deu orientações e chegou a receber de um major do Exército pedido de R$ 100 mil para ajudar na organização dos atos em Brasília.
Em outra frente, o PL, partido de Bolsonaro, foi usado para financiar narrativas que atacavam as urnas eletrônicas. O ápice dessa estratégia foi a apresentação de um estudo questionando o resultado da eleição.
Na sede da legenda, os policiais encontraram um documento com argumentos para decretação do estado de sítio. O advogado Fábio Wajngarten, que representa Bolsonaro, disse que o “padrão do conteúdo não condiz com as tradicionais e reconhecidas falas e frases do presidente”. Afirmou ainda que “não tem limite a vontade de tentar trazer o Presidente Jair Bolsonaro para um cenário político que ele jamais concordou”.
Braga Netto, Augusto Heleno, Valdemar Costa Neto, Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres e Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira
g1
Resultados da operação:
Havia 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva para serem cumpridos na operação Tempus Veritatis (que significa “hora da verdade”, em latim), que foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes. Veja aqui todos os alvos da operação.
O passaporte de Jair Bolsonaro foi apreendido e ele está proibido de falar com os investigados.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi alvo de um mandado de busca, mas acabou preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo. Uma pepita de ouro foi apreendida com ele.
Ouro encontrado com Valdemar Costa Neto
Polícia Federal
Na sede do PL, foi encontrado na sala de Bolsonaro um documento que defende e anuncia a decretação de um estado de sítio e da garantia da lei e da ordem no país.
O relatório da PF afirma que o grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado. Veja detalhes aqui.
Nomes próximos ao ex-presidente, como Braga Netto e Augusto Heleno, também foram alvos de busca e apreensão.
O ex-assessor especial de Bolsonaro Filipe Martins, que, segundo a PF, foi quem entregou a minuta do golpe a Bolsonaro, e mais dois militares foram presos. Um quarto mandado de prisão foi expedido contra um coronel, mas ele não foi detido porque estava nos Estados Unidos, mas já será trazido ao Brasil. Veja aqui os motivos da Procuradoria Geral da República para pedir as quatro prisões.
A operação mirou ainda o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, com quem já havia sido encontrada uma minuta do golpe, e o ex-assessor de Bolsonaro Tércio Arnaud, apontado como integrante do chamado “gabinete do ódio”. Eles são acusados de integrar um núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral.
O advogado Amauri Feres Saad, que teria prestado assessoria jurídica para a elaboração da minuta, também foi alvo da PF.
Outro alvo foi um padre católico conservador de Osasco (SP) que, segundo a PF, assessorava na elaboração de minutas de decretos golpistas.

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